Brasil recebe relatos diários sobre a Síria e busca diálogo para encerrar impasse na região

30/11/2011 - 8h37

Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil


Brasília – O agravamento da crise na Síria preocupa o governo do Brasil, que passou a acompanhar diariamente os acontecimentos no país. Por determinação do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, o embaixador do Brasil na Síria, Edgard Cassiano, e o subsecretário para a África e o Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores, Paulo Cordeiro, são responsáveis por relatos detalhados sobre o que ocorre na região.

Patriota orientou ainda que Cassiano e Cordeiro defendam, nas conversas que têm, a busca pelo diálogo como alternativa ideal para o fim do impasse sírio, que já dura oito meses. Cassiano mantém conversas com os líderes do governo, da oposição, religiosos cristãos e muçulmanos das diversas linhas, além dos empresários da Síria.

As denúncias de violação dos direitos humanos, apresentadas pela Comissão de Investigação de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas anteontem (28), transgridem as normas internacionais, segundo as autoridades brasileiras. Tanto é que o governo do Brasil é categórico na defesa da proteção e preservação dos direitos humanos na Síria.

Como argumento, as autoridades do Brasil se baseiam na Carta das Nações Unidas, de 1945. O Capítulo 7 do texto adverte que a ruptura dos processos democráticos e as ameaças à paz com atos de agressão devem ser combatidas. No entanto, o governo brasileiro resiste à possibilidade de intervenção militar. Ontem (29) Patriota defendeu a desmilitarização da Síria como alternativa para encerrar o impasse no país.

O chanceler disse ainda que a mediação de um acordo de paz na região deve ser feita pela Liga Árabe – formada por 23 nações, inclusive a Síria, que está temporariamente suspensa. Patriota lembrou que uma intervenção militar no país pode causar prejuízos à população como um todo.

Para Patriota, as denúncias apresentadas pelos peritos internacionais sobre a Síria são “muito graves”, pois informam que as forças de segurança ligadas ao presidente do país, Bashar Al Assad, são responsáveis por torturas, assassinatos, estupros e desaparecimentos na região. Foram ouvidas 223 pessoas para a análise dos fatos na Síria, de acordo com os especialistas estrangeiros.

“As acusações são muito graves, estamos examinando o seu conteúdo [o relatório tem 40 páginas]. Lembro que o Brasil se posicionou sempre a favor das manifestações por um governo melhor, mais democracia, melhores oportunidades econômicas, de emprego e de organização para os países árabes. Ao mesmo tempo, deixou claro que é inaceitável a utilização do aparato do Estado para a repressão com violência contra manifestantes”, disse Patriota.

As investigações da comissão da ONU começaram em 26 de setembro, mas os peritos não receberam autorização de Assad para ir à Síria averiguar a situação in loco. Integraram o grupo de peritos o brasileiro Sérgio Pinheiro, especialista em direitos humanos, a turca Yakin Erturk, da área da violência contra as mulheres, e a norte-americana Karen Abou Zayd, que analisa as questões humanitárias e sobre refugiados.

Edição: Juliana Andrade