Atores de Hoje defendem que crimes da ditadura não caiam no esquecimento

29/09/2011 - 21h08

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Em meio à discussão no Congresso Nacional sobre a criação da Comissão da Verdade, um dos pontos polêmicos do Plano Nacional de Direitos Humanos, o filme Hoje, de Tata Amaral, defende a necessidade de "não esquecer" os crimes ocorridos durante a ditadura militar. O longa-metragem, que chegará às telas no próximo ano, será exibido hoje (29) no 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

A Comissão da Verdade foi aprovada na Câmara no último dia 21 e está no Senado aguardando para ser votada. Grupos que apoiaram a ditadura classificaram como "revanchismo" a iniciativa, proposta no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O filme vai na direção contrária. O longa-metragem lança luz sobre o que se passou nos porões da ditadura para que o país possa debater e cicatrizar as feridas dos passado. Tudo isso tratado em um espaço íntimo de um apartamento.

A atriz Denise Fraga vive o papel de Vera, uma ex-militante política, no filme. Em entrevista à Agência Brasil, ela defendeu a necessidade de se lembrar do passado. Para a atriz, não se deve ficar remoendo o passado, mas também não dá para esquecer as atrocidades da ditadura. “Não dá para simplesmente fechar o baú. Além disso, é necessário ter acesso à história. Não dá para trancar a história, ter um parente desaparecido e não ter direito de saber o que aconteceu com ele.”

Denise Fraga disse que Vera, pela profusão de sentimentos, foi uma das personagens mais complexas que já interpretou. "Talvez seja a mais complexa personagem que eu tenha feito. É um filme cheio de camadas de sentimentos. Vera é uma ex-militante política, que passou por tortura, teve o marido desaparecido e está tentando se refazer. O filme ajuda a gente a ver, rever e pensar sobre as pessoas que passaram por esse período [a ditadura].”

O ator uruguaio Cesar Troncoso, de O Banheiro do Papa, também participou do filme Hoje. Ela conta que em seu país ainda paira a mesma falta de acesso a informações sobre os crimes da ditadura militar.

Na sua opinião, Hoje não estimula a remoer o passado, mas oferece uma oportunidade de "construir um futuro" sem os mesmos erros. "Quando há uma coisa terrível em sua vida, não dá para esquecê-la. Lembrar não significa olhar para trás e sim olhar adiante. Eu tenho uma filha de 13 anos. Quando ela tiver 20 anos, as pessoas podem querer repetir o que já foi feito e ela precisará saber o que não se pode aceitar".

Troncoso deu uma interpretação introspectiva à sua personagem no filme. Recorreu pouco às palavras, mas com uma expressividade que passa o peso do sofrimento de quem foi torturado. "Para mim, a importância das coisas está no olhar, está no silêncio", destacou Troncoso. "O silêncio tem a possibilidade de ser uma coisa muito pesada. Um filme como Hoje, que tem tanta sensibilidade, tem muita coisa que não são ditas, mas estão ali. Não sei se isso vai ser dito no filme, espero que sim. É um filme de olhares.”

Edição: João Carlos Rodrigues