Ministro angolano diz que protestos contra o presidente podem gerar conflito incontrolável

14/09/2011 - 18h40

Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil

Brasília - O ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chicoti, reconheceu hoje (14) o risco de as manifestações contra o presidente José Eduardo dos Santos se tornarem um conflito de proporções incontroláveis.

“Temos um país com vários grupos étnicos, com várias sensibilidades políticas. E se cada um for para a rua e pegar alguma coisa? É verdade que vamos aceitar algumas manifestações, mas temos que ter o cuidado de que isso não descambe [para a violência]”, declarou o ministro, ao comentar os recentes protestos contra o mais longevo líder africano. Santos está no cargo desde 1979.

Para o ministro, os protestos podem criar uma situação que nem as Forças Armadas, nem a polícia possam resolver.

“Se todos quiserem ir para a rua, se todos quiserem usar os meios que entenderem para se manifestar, certamente que não são os poucos jovens que começaram isso que vão poder conter a situação", acrescentou Chicoti, defendendo que os angolanos vivem sob um regime democrático.

Ele lembrou a guerra de independência do país. "Veja como a guerra começou em 1975. Todos pensávamos que íamos para a democracia e acabávamos lutando. É preciso ter cuidado", disse Chicoti, referindo-se à guerra civil que custou a vida de milhares de centenas de pessoas e só foi encerrada em 2002, quando o Movimento Popular de Libertação da Angola (MPLA), partido de Santos, e o partido de oposição União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita) assinaram um acordo de cessar-fogo.

Segundo a agência de notícias portuguesas Lusa, o ministro ressaltou a importância de Angola "consolidar a democracia e a reconciliação nacional", após 27 anos de combates, mas advertiu que os manifestantes terão que assumir as consequências de seus atos. Ontem (13), o primeiro-secretário do MPLA, Ernesto Muangala, declarou que o partido governista apoia iniciativas da sociedade civil. Já o ministro da Defesa, Candido Van-Dúnem, disse à Agência Brasil, na segunda-feira (12), que o Poder Executivo angolano não é contra e não teme as manifestações contra Santos.

Nesta segunda-feira (12), a Justiça angolana condenou a penas que variam de 45 dias a 3 meses de prisão 18 dos 21 jovens detidos no último dia 3, enquanto protestavam contra o presidente Santos e a falta de democracia no país. Os outros três jovens (entre eles a única mulher do grupo) foram absolvidos. Na quinta-feira (8), 27 pessoas foram presas ao participar de um ato de solidariedade aos 21 jovens que começavam a ser julgados naquele dia. Esses 27 estão sendo julgados hoje.

Depois do acordo de paz, firmado há nove anos, houve apenas uma eleição legislativa no país, em 2008. Na ocasião, o MPLA obteve a maioria dos assentos no Parlamento. Mudou a Constituição em 2010, pondo fim às eleições diretas para à presidência e estabelecendo que caberia ao partido mais votado nas futuras eleições indicar os próximos presidentes. Uma nova eleição legislativa está prevista para o ano que vem, e não está descartada a hipótese de o MPLA, obtendo a maioria dos votos, manter Santos no cargo.
 

Edição: Rivadavia Severo