Forças de segurança pública devem estar preparadas para dialogar os movimento sociais, diz historiador

13/06/2011 - 17h38

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – O fortalecimento dos movimentos sociais no país, especialmente o sindical, com as recentes manifestações dos bombeiros do Rio de Janeiro e de médicos por melhorias salariais, exige que as forças de segurança estejam preparadas para tratar com tais situações. “Não só para reprimir, mas também para ajudar na organização do movimentos”, disse hoje (13) à Agência Brasil o historiador Oswaldo Munteal, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

É necessário, analisou Munteal, não ver a movimentação social como uma coisa que altera a ordem pública. “Quando o aparelho de Estado criminaliza a sociedade, a democracia vai para o buraco”. Segundo o professor da Uerj, as experiências de maior aproximação da polícia com o cidadão são muito importantes, na medida em que oferecem à população a perspectiva de apuração dos crimes e o acompanhamento do caso.

Ele citou o exemplo da Delegacia de Dedicação Integral ao Cidadão (Dedic), criada em março de 2010 pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, para oferecer maior conforto e agilidade na solução dos crimes. Conhecida como Delegacia Virtual – as pessoas podem registrar ocorrências por meio da internet e chamar os agentes –, a Dedic contabilizou no primeiro trimestre de funcionamento um grau de satisfação de 94%. Foram entrevistadas 234 pessoas de um total de 322 registros de ocorrência feitos pelo programa Dedic. A informação é da especialista em políticas públicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ana Beatriz Leal.

A gestão da segurança pública sob o olhar de várias autoridades do setor no país é o tema central do livro Perspectivas da Administração em Segurança Pública no Brasil, que será lançado no Rio de Janeiro, no próximo dia 16. A obra é organizada pelo professor Munteal, com a colaboração de Ana Beatriz Leal e da doutoranda em História Política pela Uerj Vivian Zampa.

O livro destaca a necessidade de a sociedade ter uma atuação proativa, no sentido de elaborar mecanismos de proteção de sua própria existência. “A polícia reprime a ponta do processo, mas não o uso privado. Segurança é também autopreservação e uma tomada de consciência social de cada um”, disse Munteal.

Ana Beatriz Leal destacou que o livro é inédito, na medida em que reúne pela primeira vez relatos das experiências de gestores públicos “que estão tocando a máquina”, em vez de fazer uma análise acadêmica sobre questões da segurança pública.

Segundo o comandante das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio, coronel PM Robson Rodrigues, o livro mostra uma nova mentalidade está se impondo nas polícias e forças de segurança no Brasil. O comandante-geral da Policia Militar de São Paulo, coronel Alvaro Camilo, concorda com Rodrigues.

A obra conta ainda com a contribuição do ex-secretário de Segurança Pública de Bogotá Hugo Acero, que enfrentou as Forças Armadas da Colômbia (Farc) durante sua gestão na pasta.

Edição: João Carlos Rodrigues