Culpar pilotos do voo 447 é “precipitado e sensacionalista”, dizem investigadores

17/05/2011 - 14h24

BBC Brasil

Brasília - A porta-voz do Escritório de Investigações e Análises da França (BEA, na sigla em francês), Martine Del Bono, informou hoje (17) que o BEA está ''chocado'' com o que chamou de ''informações sensacionalistas e não confirmadas” publicadas pelo jornal Le Figaro. O jornal afirmou que as análises das caixas-pretas da aeronave envolvida no voo 447 da Air France indicam que as causas do acidente foram erros dos pilotos.

"Nem começamos a analisar os dados das caixas-pretas do avião. Essas informações [dados das caixas-pretas] serão cruzadas com a perícia das peças resgatadas do avião e outros elementos e esse processo todo vai durar meses", disse a porta-voz.

Em seguida, ela acrescentou que “há, em uma das caixas-pretas, 1,3 mil parâmetros técnicos do voo para estudar, que serão cruzados com as duas horas de gravações das conversas dos pilotos e dos sons da cabine da outra caixa-preta, além da análise das peças que será realizada".

Em artigo intitulado A Pista do Erro da Tripulação se Confirma, publicado em seu site hoje o Le Figaro afirma ter informações sobre a análise das caixas-pretas “dadas a conta-gotas” por investigadores do BEA e por fontes do governo francês.

Segundo o jornal, os primeiros elementos das caixas-pretas indicam "para os investigadores que teria havido um erro da tripulação da Air France", e "isentam a Airbus de responsabilidade na tragédia que matou 228 pessoas".

“É insensato dizer que em apenas 24 horas após ter recuperado os dados das caixas-pretas os investigadores já teriam as conclusões das causas do acidente. Isso é desonesto e é irresponsável em relação às famílias das vítimas”, afirma a porta-voz.

O Le Figaro afirma que uma prova de que as investigações apontariam para erros dos pilotos é o fato de a Airbus, fabricante do avião, ter enviado hoje uma nota às companhias aéreas dizendo que "após as análises preliminares das caixas-pretas", em termos de segurança aérea, a empresa "não tem nenhuma recomendação imediata” a fazer a seus clientes.

"Utilizar a palavra 'análise' das caixas-pretas não está correto. Esse documento não quer dizer nada. Os aviões da Airbus continuam voando 23 meses após o acidente e eles apenas quiseram dizer às companhias aéreas que não há nenhum elemento novo", diz o BEA.

A porta-voz afirmou que somente a análise de todos os dados coletados pelos investigadores permitirá descobrir a sequência de eventos do voo que acarretaram o acidente. “Um acidente é causado por uma sucessão de eventos. Isso exige uma análise complexa e minuciosa. Só assim poderemos entender quais são as causas da catástrofe”, disse ela.

Em um e-mail enviado ao BEA hoje, o diretor executivo da Associação de Famílias das Vítimas do Voo AF 447, Maarten Van Sluys, afirma que a informação do Le Figaro acusando “a tripulação sem defesa do AF 447 é inaceitável”. Sluys disse ainda que a notícia do jornal foi “certamente causada pelo fato de que técnicos da Airbus estão envolvidos nas investigações, o que representa um claro conflito de interesses”.