Unificação do Iêmen é o maior legado de Saleh em 32 anos de poder

24/04/2011 - 14h09

Da Agência Lusa

Brasília - O presidente do Iêmen, Ali Abdallah Saleh, que, no sábado (23), concordou em deixar o poder dentro de um mês, tem a unificação do país, em 1990, como o seu maior feito em 32 anos. Nascido em março de 1942 na tribo Sanhan (membro da poderosa confederação Hached), Ali Abdallah Saleh alista-se nas Forças Armadas aos 16 anos e, quatro anos depois, está na liderança do golpe de Estado que afasta de Sanaa o último imã, instaurando a República Árabe do Iêmen.

Em 1978 alcança a patente de tenente-coronel e é escolhido por uma assembleia constituinte como substituto do presidente norte-iemenita Ahmad Al-Ghachmi, assassinado num atentado organizado pelo Sul.

Controladas pelos britânicos até 1967, as províncias do Sul formam depois uma república com capital em Aden. Na Presidência, Saleh rodeia-se de parentes, entre os quais os irmãos, que nomeia para postos chave do aparelho militar e de segurança. Apoia-se, ainda, no partido governamental Congresso Geral do Povo (CPG) e não esquece as estruturas tradicionais do país, integrando os xeques das tribos ao Estado.

Em 1990 consegue reunificar o Sul e, no mesmo ano, Ali Abdallah Saleh torna-se o primeiro presidente do Iêmen unificado. De lá para cá, ele organizou três eleições legislativas e duas presidenciais, que venceu facilmente, em 1999 e em 2006, quando foi reeleito para um mandato que expira em 2013.

Casado e com sete filhos, Saleh é membro da comunidade zaidita, uma seita xiita que representa cerca de 30% da população, maioritariamente sunita. Considerado um pragmático, enfrentou os seguidores do líder terrorista Osama Bin Laden no Iêmen, tornando-se aliado dos Estados Unidos e beneficiário de uma ajuda de US$ 150 milhões por ano.

Cada vez mais isolado em face da contestação popular, que ganhou força após a morte, no dia 18, de 52 manifestantes em Sanaa, Ali Abdallah Saleh declarou-se disposto a abandonar o poder antes do final do ano, após a realização de eleições parlamentares.

O anúncio, poucas horas depois de o presidente ter alertado contra os riscos de uma guerra civil e alguns dias após ter decretado Estado de Emergência, não satisfez os opositores, que continuaram a exigir a sua saída.

Sábado, o partido presidencial CGP aceitou a saída de Saleh, no prazo de um mês, acolhendo uma proposta nesse sentido dos países do Conselho de Cooperação do Golfo. O conselho propôs a formação de um governo de união nacional, a transferência dos poderes do chefe de Estado para o vice-presidente e o fim das manifestações populares, proposta que foi aprovada pela oposição no Iêmen, mas que não agrada aos movimentos que contestam o regime nas ruas e que exigem a partida imediata de Saleh.