Problema do cinema nacional é falta de espaço na exibição, diz cineasta

09/04/2011 - 15h03

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A concorrência com filmes estrangeiros continua causando prejuízos ao cinema nacional. Essa é a avaliação do conselheiro da Associação Brasileira de Cineastas (Abraci), Roberto Farias. “O problema não é distribuição. O problema é espaço na exibição."

Para Farias, a solução passa pela criação de um adicional de renda para os filmes brasileiros exibidos no país, retomando um sistema que havia na década de 60 no Rio de Janeiro para complementar a receita do produtor. “O adicional de renda atrai o investidor privado, porque ele tem a renda do filme mais um adicional."

Essa seria a forma de capitalizar os produtores de filmes médios. O adicional de renda obedeceria ao limite de espectadores de um filme médio, podendo, inclusive, ser extensivo ao exibidor. Farias acredita que com essa medida não faltariam distribuidores brasileiros e estrangeiros para os filmes nacionais.

Segundo o cineasta, o adicional de renda seria um incentivo fiscal mais sadio, porque seria concedido após a realização do filme. "Quer dizer, ele aumentaria o mercado, atrairia investidor privado. E é um incentivo dado depois do investimento privado. Diferentemente do que é hoje, que tem um investimento subsidiado antes."

Os recursos para isso viriam do Fundo Setorial do Audiovisual. “O fundo setorial tem R$ 80 milhões, mais ou menos, que estão parados, que as pessoas não conseguem atingir por causa da burocracia. Com metade disso dá para fazer um adicional de renda substancial para o cinema brasileiro."

A revisão da cota de tela, que estabelece o número de filmes nacionais a serem exibidos nos cinemas, seria outra possibilidade na busca de solução para o problema. “É preciso uma reforma no mercado, mais incentivos para a exibição”, sugeriu Farias.

"Se o exibidor tem uma disponibilidade de filmes estrangeiros com maior força no mercado que os filmes brasileiros, como ele é um comerciante vai procurar os filmes que lhe dão mais." Farias explicou que os filmes médios brasileiros têm pouca oportunidade no mercado. “O mercado é tão difícil para o cinema brasileiro que obriga o cineasta nacional a só fazer blockbuster (filmes de grande bilheteria). Quando tem blockbuster não há nenhuma dificuldade de explorar o filme."

Ele avaliou, no entanto, que a indústria cinematográfica não é feita só de blockbuster, mas engloba filmes médios, de arte e de renovação, por exemplo. Farias disse que não existe problema de distribuição para os filmes nacionais de grande público. “Mas, há para os filmes médios e pouco abaixo da média, que não têm proteção alguma."

Como os filmes estrangeiros são os maiores clientes das salas exibidoras, eles têm maior poder comercial e de competição “ainda que o cinema brasileiro faça filmes de grande êxito e bilheteria”, disse o cineasta. Segundo ele, os filmes nacionais estão dispersos e não têm, por isso, o poder de enfrentar um filme internacional de forma mais vigorosa. Farias acredita que a existência de algumas distribuidoras privadas, que detivessem um número expressivo de filmes, tornaria mais fácil a abertura de mais espaço exibidor para as produções nacionais.

Farias explicou que esse problema se estende desde o século passado. “O cinema estrangeiro é muito mais poderoso que o nosso. E, consequentemente, tem um domínio sobre o mercado muito maior que o filme brasileiro."

Edição: Andréa Quintiere