Entrada elevada de dólares com crédito barato obtido no exterior fez com que governo elevasse IOF

29/03/2011 - 16h07

Daniel Lima
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O grande volume de crédito barato obtido no exterior, por empresas e bancos, fez o governo adotar as medidas que elevaram o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos empréstimos, explicou hoje (29) o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Decreto publicado hoje, no Diário Oficial da União, elevou para 6,38% o imposto para empréstimos de até um ano. Antes, até 90 dias, o governo cobrava 5,38%. Segundo o ministro, o volume desses empréstimos vinha subindo muito e, só de janeiro ao dia 25 de março, ingressaram no país US$ 26,6 bilhões.

“É uma quantia muito elevada. E esses recursos não levam em consideração os investimentos estrangeiros diretos, cuja conta chega a US$ 12 bilhões”, disse. A entrada elevada de dólares é um problema surgido no ano passado, depois que o Brasil, ao sair da crise, tornou-se um país mais seguro aos investidores estrangeiros.

Para o ministro, as razões para a forte entrada de capital externo no país são “óbvias” e têm a ver com o crédito muito barato em outros países em comparação ao Brasil. Isso termina criando um problema conhecido como arbitragem. “Como os juros estão mais baratos lá fora, os bancos e empresas tomam o empréstimo e, depois, aplicam aqui dentro e ganham esta diferença. Ou então, colocam no mercado interno emprestando a taxas elevadas, que é a arbitragem”, explicou.

A entrada, cada vez em volumes maiores, tem sido um problema para o Brasil. Um maior volume da moeda norte-americana termina reduzindo o seu valor enquanto eleva o real, prejudicando, entre outros setores, o exportador, que vê seus produtos ficarem mais caros no exterior.

As medidas adotadas, agora, também visam a diminuir a exposição, em dólar, das empresas e dos bancos brasileiros. Isso porque, quando os juros deixarem de ser baratos no exterior, essas empresas e bancos endividados na moeda estrangeira passarão a enfrentar problemas. “Não queremos que haja um grande endividamento no exterior. É uma medida prudencial. Além de tentar atenuar esse fluxo de dólares, que é muito forte”, destacou Mantega.

Outra razão para o governo estar preocupado é que os empréstimos podem estar sendo direcionados internamente para o crédito e, com isso, elevando a inflação devido ao consumo aquecido. Esse é um caminho inverso ao pretendido pelo Brasil, que quer restringir justamente o crédito por causa do nível de atividade da economia brasileira, que precisa crescer em níveis sustentáveis. “Isto colide com a restrição de crédito que o Banco Central vem adotando, com o aumento das taxas de juros e das exigências prudenciais de mais capitais para os bancos”.

O ministro não informou o volume de recursos que a medida trará aos cofres da União. Segundo sua avaliação, como haverá redução no ingresso de capital de curto prazo, haverá uma arrecadação menor com esse tipo de operação.

Edição: Lana Cristina