Movimentos sociais criticam metodologia de pesquisa nacional sobre meninos de rua

25/03/2011 - 16h49

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Representantes de movimentos sociais voltados para os direitos humanos criticaram hoje (25) pontos da pesquisa censitária sobre jovens e crianças de 3 a 17 anos em situação de rua publicada nesta semana pelo Conselho Nacional da Criança e do Adolescente (Conanda). Eles criticaram sobretudo a metodologia da pesquisa e a falta de participação de educadores e profissionais que trabalham com crianças de rua na capital fluminense para contribuir no estudo.

Ao participar de reunião na sede do Movimento Nacional de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, a pedagoga Mônica Alckmin, da organização Se Essa Rua Fosse Minha, criticou o fato de ninguém da área governamental e acadêmica do Rio que trabalhe com crianças e jovens em situação de rua ter sido contatado pelo instituto responsável pela pesquisa.

“Nós nos reunimos com educadores e instituições do Rio Criança para saber quem, de alguma forma, estava participando da pesquisa: nenhuma instituição sabia da pesquisa, nem a DCA [Delegacia da Criança e do Adolescente]." Segundo Mônica, os meninos que estavam na rua disseram não ter sido contatados pelos pesquisadores. e as universidades também não.

O conselheiro do Conanda no Rio, Carlos Nicodemos, destacou que a pesquisa não considera as diferentes realidades de cada estado e generaliza os resultados. “A colocação do Rio em primeiro lugar já é um dado questionável, pois, nos nossos contatos institucionais, na prática, sempre soubemos que São Paulo tem maior número de crianças de rua. Um colega que trabalha com meninos de rua em São Paulo disse que os 4,751 mil meninos entrevistados lá devem ser apenas os da Praça da Sé.” Na pesquisa, o Rio de Janeiro aparece com 5.091 crianças e jovens em situação de rua.

Os representantes de movimentos sociais criticaram ainda a falta de aprofundamento na questão das drogas na vida desse grupo, visto que, segundo a pesquisa, apenas 2% dos meninos se disseram viciados em drogas. “No Rio de Janeiro, em São Paulo e na Bahia, por exemplo, sabemos que as drogas têm papel fundamental na permanência dos meninos na rua e nas relações econômicas deles. Daí, a importância de separar por estados.”

Para Mônica Alckmin, outro motivo para a baixa porcentagem dos que admitiram o uso de drogas pode ser o tipo de metodologia usado na abordagem. “Quando é um educador que tem uma relação com esse menino, ele fala até que droga usa, de quem consegue etc, mas, se for um acadêmico com uma prancheta na mão, a tendência é que o menino negue”, disse ela.

A falta de dados específicos sobre o Rio de Janeiro e de mais detalhes sobre a metodologia da pesquisa fez o grupo marcar nova reunião. “Solicitamos as tabelas com os dados do Rio e vamos marcar um seminário, convidando a empresa (Meta) que realizou a pesquisa, que é de Brasília, para aprofundarmos os dados. Só assim poderemos forçar os passos seguintes e envolver os conselhos municipais para implementar ações concretas para as crianças e adolescentes em situação de rua”, disse Carlos Nicodemos.

Os dados da pesquisa foram coletados de 10 de maio a 30 de junho do ano passado e o relatório final foi concluído em agosto. Os resultados foram apresentados ao Conanda no dia 17 deste mês.

Edição: Nádia Franco