Safra recorde de algodão não tranquiliza indústria têxtil nacional

16/03/2011 - 19h03

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A estimativa de safra recorde de algodão não é motivo de alegria para a indústria têxtil nacional. A previsão de colher 1,95 milhão de toneladas (dados do Instituto Brasileiro de Algodão - IBA) não tranquiliza o setor que até a chegada da nova safra, em junho, vai ter que trabalhar com um suprimento “muito curto” e com o preço elevado, “jamais visto na história da indústria têxtil”, disse o diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel.

De acordo com o IBA, a expansão do preço foi de 300% no mercado interno. O algodão estava em torno de US$ 0,70 por libra-peso (unidade para medir a fibra, equivalente a 435 gramas), no começo de 2010 e, agora, está em US$ 2,40 por libra-peso.

O diretor superintendente da Abit defende a criação de instrumentos que priorizem o abastecimento do setor têxtil para que não volte a sofrer com a falta do algodão. “O que nós temos de ter muita clareza é que, dentro das leis de mercado, a indústria brasileira tenha o seu abastecimento garantido, não só no início desta safra como também no ano que vem, no período de entressafra, que vai de janeiro/fevereiro até maio/junho”, disse Pimentel.

Para o presidente do IBA, Haroldo Cunha, a crise atual é resultado dos problemas ocorridos na última safra. A redução da área plantada foi agravada por problemas climáticos que quebraram a produtividade, disse. “A gente deixou de produzir 200 mil toneladas no ano passado. Isso gerou um desabastecimento maior na indústria”.

Cunha descartou, no entanto, a possibilidade de faltar algodão para a indústria nacional este ano. Segundo ele, da safra 2010/2011, de 1,95 milhão de toneladas, 1,2 milhão foram negociadas antecipadamente. Mas, segundo ele, isso não significa que seja tudo para a exportação. “A venda antecipada normalmente quem faz são as tradings [empresas internacionais], mas muitas delas colocam algodão também no mercado interno”.

De acordo com o presidente do IBA, o panorama para a indústria vai se normalizar no início do segundo semestre. “Porque nós vamos ter uma safra muito grande”. O que vai ocorrer, afirmou, é que uma parte do algodão que está sem negociar até agora vai estar nas mãos de comerciantes. “Mas vai ser disponibilizado para o mercado interno, sem dúvida nenhuma”. Ele estimou que a exportação deverá abranger 700 mil toneladas do algodão relativo à safra 2010/2011. O restante, 1,2 milhão de toneladas, é suficiente para cobrir a necessidade da indústria, que gira em torno de 1 milhão de toneladas, disse.

O diretor superintendente da Abit, Fernando Pimentel, lembrou, porém, que mais uma dificuldade para o setor é a existência da venda do algodão atrelada a contratos flex, que têm cláusula que permite a mudança de destino. Os produtos negociados nesses contratos tanto podem ir para exportação como para atender o mercado nacional.

O gerente de Levantamento e Avaliação de Safra, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Carlos Bestetti, admite que os contratos flex não é uma boa opção para a indústria nacional em razão do preço, que está muito elevado. “Não serve para a indústria nacional porque, se mudar agora, vai mudar para um preço maior”.

Ele acha acertada a estratégia que vem sendo adotada por algumas indústrias nacionais de mudar a localização de suas instalações para atender a questões de logística de transporte. As instalações estão sendo transferidas para estados do Nordeste, como o Maranhão e Piauí, deslocando assim a atuação em Mato Grosso, que é o maior estado produtor, já “saturado”, disse Bestetti.

 

Edição: Aécio Amado