Agenda do saneamento no Brasil é vergonhosa, diz presidente do Instituto Trata Brasil

20/10/2009 - 0h33

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A agendado saneamento básico no Brasil é vergonhosa, na opinião do presidente do Instituto Trata Brasil, Raul Pinho. Elelembrou que o setor ficou esquecido por cerca de 20 anos, atéa criação do Ministério das Cidades em2003, e que nesse período os centros urbanoscresceram em taxas exponeciais por conta da migraçãodo campo.

Segundo o instituto, atualmente 50% da população brasileiranão têm acesso à rede de esgoto. Outra agravante éque apenas um terço do esgoto produzido no país é tratado –os outros dois terços são jogados in natura em rios e praias.

Aoparticipar do 4ºSeminário Internacional sobre Federalismo e Desenvolvimento,Pinho alertou que os problemas de saneamento no Brasilpodem comprometer, inclusive, o bom acesso à águapotável (94%). “Oesgoto contamina a água. Para que ela seja tratada, vocêgasta mais dinheiro com produtos químicos e com energia”, disse.

Nasemana passada, a Organização Mundial da Saúde(OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância(Unicef) divulgaram um estudo sobre diarréia. A doençaé provocada, dentre outros fatores, pela falta de coleta etratamento de esgoto. O documento mostra que 1,2 bilhão depessoas no mundo não dispõem de banheiro.

“OBrasil está em sétimo lugar nesse ranking davergonha, junto com Bangladesh. Não dá para um paísque quer ser destaque entre as maiores economias do mundo ter essaposição”, afirmou.

Eleressaltou que o acesso ao saneamento básico é umdireito constitucional mas que os próprios brasileiros nãovalorizam essa agenda. Uma pesquisa encomendada pelo instituto aoIbope revela que 60 milhões de pessoas em todo o paísnão sabem sequer o que é saneamento básico oupara onde vai o esgoto produzido nas residências.

Apesarde as regiões Norte e Nordeste apresentarem baixas taxas decobertura, o foco no Brasil, de acordo com Pinho, devem ser asgrandes metrópoles. Isso porque no interior o problema nãoé tão crítico, já que as casas sãoconstruídas distantes umas das outras. Mas, em favelas, o adensamento de pessoas faz com que os problemas de saúdese tornem críticos.

Alémdo “convencimento” da população acerca daimportância do tema, ele defendeu que as mudanças sejamcobradas de prefeitos em todo o país, já que o problemase resume como urbano.

Indicadoresda OMS garantem que, a cada quantia investida em saneamento, aeconomia chega a ser quatro vezes maior na área da saúde.O Brasil, segundo Pinho, precisa levantar R$ 270 bilhões paraque todos os cidadãos tenham acesso a esgoto tratado, mas oPrograma de Aceleração do Crescimento (PAC) voltadopara o setor destina apenas R$ 10 milhões ao ano.

“Éuma agenda que ultrapassa esse governo, uma políticapública de longo prazo. Temos que investir sempre porque ascidades crescem todos os dias. É uma política que temque ser enfrentada com continuidade e nós, como cidadãos,temos que cobrar”.