Para Jobim, acidente em Congonhas obrigou autoridades aéreas a priorizarem segurança dos vôos

12/07/2008 - 19h35

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Antecipando-se ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) e à Polícia Civil de São Paulo, que ainda não concluíram suas investigações sobre as causas do acidente com o Airbus A320, que fazia o vôo 3054 da TAM, no dia 17 de julho de 2007, em que morreram 199 pessoas, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, sustenta que a maior tragédia da história da aviação civil brasileira em número de vítimas não foi provocada pelas condições do aeroporto de Congonhas, em São Paulo.

“O acidente foi o pico de uma crise que, ao que tudo indica, não teve vinculações com o aeroporto propriamente dito”, afirmou Jobim, na última quinta-feira (10), após participar de entrevista nos estúdios da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Dizendo lamentar o ocorrido, Jobim ponderou que o acidente despertou a Nação para a crise que atingiu o setor aéreo após o acidente com o Boeing que fazia o vôo 1907 da Gol, em setembro de 2006. E que obrigou os responsáveis pelo setor a adotar medidas que garantissem a segurança dos vôos e possibilitassem a volta dos aeroportos à normalidade. “Lamentamos o fato, mas a circunstância é que foi retomado algo importante para a aviação civil, a segurança”, disse.

Para o ministro, a preocupação com a segurança pode ser evidenciada com medidas como a redução do número de pousos e decolagens (slots) em Congonhas, o que acarretou a menor movimentação de usuários. “Entre janeiro e maio de 2007, tivemos cerca de 7,6 milhões de pessoas utilizando o aeroporto. No mesmo período deste ano, tivemos 5.5 milhões, uma redução de pouco mais de 2 milhões de pessoas, ou 27%”.

Em consequência da diminuição do número de slots, restringidos a até 30 movimentos-hora para a aviação geral (de passageiros) e quatro para a aviação regular (táxis aéreos, jatos executivos etc.), Congonhas perdeu o primeiro lugar em movimentação de passageiros para o aeroporto internacional de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. “Hoje, Congonhas está em um patamar de utilização considerado ótimo”, afirmou o ministro.

Jobim descartou a possibilidade de, como sugerem as empresas aéreas, voltar a aumentar o número de pousos e decolagens no local. “Não há qualquer possibilidade de, neste momento, aumentarmos o número de slots. Não vamos ceder e permitir que Congonhas volte a ter 50 pousos e decolagens por hora como ocorria até o ano passado. Eventualmente, aumentando as condições da pista auxiliar, com as saídas rápidas que vamos fazer, nós poderemos aumentar o número de slots, mas, a princípio, apenas da aviação geral”, disse o ministro Nelson Jobim à Agência Brasil.

Nelson Jobim assumiu o Ministério da Defesa sete dias após o acidente com o vôo JJ 3054, da TAM, em julho de 2007, substituindo Waldir Pires, já bastante desgastado pela crise que atingiu o setor aéreo após o acidente com o Boeing da Gol, em setembro de 2006.

Em sua primeira entrevista coletiva, Jobim garantiu ter recebido “carta-branca” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fazer as mudanças necessárias para resolver o chamado “apagão aéreo”, alvo das investigações das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.

Ao falar pela primeira vez sobre a infra-estrutura aeroportuária, o ministro afirmou que colocaria a segurança dos usuários em primeiro lugar, priorizando “a decolagem, o tráfego aéreo e a chegada com comodidade”.

Dois dias após ter tomado posse, Jobim partiu para São Paulo, onde visitou o local do acidente, chegando a percorrer o interior do depósito de cargas atingido pelo Airbus da TAM antes de ir ao Instituto Médico Legal (IML), onde acompanhou os trabalhos de identificação dos corpos das vítimas.