Falta de investimento em pesquisa atrasa descobertas para doenças negligenciadas, diz pesquisadora

08/10/2006 - 14h36

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A falta de investimentos em pesquisa por parte do setor público e privado é a principal causa apontada pela diretora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Tânia Araújo Jorge, para o atraso na descoberta de medicamentos e tratamentos para as chamadas doenças negligenciadas.Segundo ela, essas enfermidades atingem principalmente as populações mais pobres de países menos desenvolvidos, onde o investimento em estudos para prevenção, tratamento, produção de medicamentos e vacinas é reduzido. São exemplos desse tipo de doença a dengue, leishmaniose e hanseníase e a Doença de Chagas.A diretora diz que os países industrializados têm pouco interesse em desenvolver esse tipo de pesquisa por causa do baixo retorno econômico com a venda desses medicamentos. A conseqüência disso é a ausência de mecanismos de terapia e tratamento para a maior parte dessas doenças.Um levantamento efetuado pelo FDA, órgão norte-americano responsável pela aprovação de medicamentos, revela que, entre 1975 e 2004, foram aprovados cerca de 1,5 mil remédios para comercialização. Desse total, apenas 1% era destinado ao tratamento das doenças negligenciadas.Araújo cita como exemplo da falta de terapia e medicamentos a Doença de Chagas. No Brasil, ela é responsável pela morte 50 mil pessoas por ano, principalmente por causa de cardiopatias. O número de pessoas com doença cardíaca decorrente da Doença de Chagas alcança hoje 4 milhões.De acordo com a pesquisadora, na América Latina, 18 milhões de pessoas estão infectadas atualmente por essa enfermidade. A cada ano, a incidência da doença chega a 300 mil casos nos países sul-americanos."No caso dessa doença, existe um único medicamento no mercado, que não é eficiente e tem muita toxicidade", diz, ao acrescentar que o mesmo acontece com a leishmaniose e a dengue.Para a diretora, o setor público é essencial para o desenvolvimento de pesquisas. "Mas a cooperação e a formação de redes de investigação complementar são essenciais para todas essas ações”, observou.