Relatório de Serraglio detalha relação do Grupo Opportunity com empresas de Marcos Valério

13/04/2006 - 22h04

Luciana Vasconcelos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios sofreu algumas mudanças antes de ser aprovado. Uma delas é o pedido de indiciamento do empresário Daniel Dantas, do Grupo Opportuniy, e da ex-presidente da Brasil Telecom, Carla Cicco. O relator deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) também acrescentou a relação do Opportuniy com o esquema Marcos Valério.

De acordo com relator, uma das teses é de que o financiamento dos recursos repassados por Marcos Valério a parlamentares e partidos políticos teria sido originado do setor privado e as empresas de publicidade de Valério tenham sido "elo entre as fontes financiadoras e os beneficiários de tais recursos, o que se daria através, de um lado, dos contratos de publicidade e, de outro, dos empréstimos bancários".

Serraglio lembra que as empresas Telemig Celular e Amazônia Celular, controladas pelo Opportunity, eram os dois principais clientes das empresas de Marcos Valério. De acordo com relatório a Telemig e a Amazônia, em conjunto realizaram pagamento de aproximadamente R$ 158 milhões desde o ano 2000.

"Algumas notas fiscais emitidas pela Telemig Celular S/A, que mais realizou pagamentos ao Sr. Marcos Valério, simplesmente sumiram dessa empresa, não se podendo ainda comprovar com exatidão a natureza dos serviços prestados pelas empresas do Sr. Marcos Valério".

Em meados de 2005, a Brasil Telecom, então controlada pelo Opportunity, firmou contrato com as empresas de Marcos Valério. Os valores transferidos pela empresa de telefonia à SMP&B somaram R$ 3,93 milhões e à DNA Propaganda, R$ 823 mil. Segundo o texto incorporado ao relatório da CPI, as investigações mostraram a existência de dois contratos de publicidade da Brasil Telecom com as empresas DNA e SMP&B no valor de R$ 25 milhões cada, assinados em maio de 2005.

Segundo o relatório, a atual diretoria da Brasil Telecom apresenta fatos que demonstram a transferência injustificável de recursos para as empresas de Marcos Valério. O relator diz ainda que, ao examinar o material "produzido" pela agência, chega a ser "risível diante do seu absoluto contraste com as somas cobradas".

Serraglio afirma que os indícios são de que os trabalhos se reduzem a simples reproduções de baixa qualidade. "Questionada, a Brasil Telecom confirmou a este Relator a absoluta dessintonia de conteúdo dos trabalhos com as peculiaridades da empresa, o que evidencia que de fato não houve produção dos serviços, tratando-se de forma de encaminhar recursos ao valerioduto", afirma o relatório.

De acordo com o relatório, a "magnitude" dos contratos firmados por Marcos Valério com o Grupo Opportunity "impressionaram" os integrantes da comissão. De acordo com o relator, existem fatos que indicam que a relação "estaria além da relação profissional entre tomador e prestador de serviços, e extrapolaria a linha entre os interesses privados e os interesses de ordem pública".

O texto de Serraglio afirma que Marcos Valério confirmou ter intermediado reuniões entre Dantas e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e que poderia influenciar decisões governamentais em relação aos fundos de pensão. "A proximidade do Sr. Dantas e de seu Grupo Opportunity com os Srs. Marcos Valério e Delúbio Soares tinha o objetivo de persuadir e pressionar políticos e dirigentes de fundos de pensão para que não o removessem do controle da Brasil Telecom, Telemig Celular e Amazônia Celular", diz o relatório.

O Grupo Opportunity foi afastado da Brasil Telecom em setembro do ano passado pelo conselho administrativo da empresa.