Tropas da ONU no Haiti reforçam segurança após ameaças de ex-militares

04/09/2004 - 0h22

Aloisio Milani
Repórter da Agência Brasil

Brasília – As tropas militares que integram a missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), no Haiti, reforçam a segurança das delegacias do país após ameaça dos ex-militares haitianos de ocuparem os prédios da Polícia Nacional.

O Exército foi extinto pelo ex-presidente Jean Bertrand Aristide, em 1995, sem nenhum decreto ou benefício para os militares. Os ex-militares possuem armas, muitas vezes vestem o antigo uniforme da instituição, e se organizam para pedir uma resposta do governo provisório sobre a possível reintegração.

"Esse é um problema que vem desde a dissolução do Exército. E, agora, com a vinda Minustah, os ex-militares estão pressionando para serem reconhecidos", afirma o coronel William Soares, assistente do comandante das tropas da ONU, o brasileiro Augusto Heleno.

Após a ameaça de ocupar as unidades da Polícia Nacional, os ex-militares conseguiram invadir apenas a delegacia de Petit-Goâve no sul do país. O grupo está armado e ainda mantém o controle do prédio. Outras duas delegacias municipais foram ocupadas pela ONU para evitar novas invasões – nas cidades de Miragoâne e Grand Goâve, também localizadas na região sul.

"A posição da Minustah é de apoiar o governo interino. Ocupamos a pedido deles ocupamos algumas cidades de forma preventiva para evitar que os ex-militares ocupassem mais delegacias. Mas nossa posição é de aguardar a posição do governo provisório", diz o coronel Soares.

O coronel Carbonell, assessor de Comunicação Social da Brigada brasileira no Haiti, afirmou que nesta quinta-feira, a pedido do comando militar da ONU, dois pelotões se deslocaram para Grand Goâve. "A informações é que haveria ex-militares numa delegacia, mas nossa missão não encontrou nada", informa.

As cidades de Jacmel e Peti-Goâve são algumas das que apresentam o movimento dos ex-militares mais organizado. Há desentendimentos freqüentes entre a Polícia Nacional e o grupo de ex-militares.

Confronto

Nesta quinta-feira, o secretário de Assuntos Estrangeiros da França, Renaud Muselier, em visita oficial ao Haiti, ficou preso num hospital do bairro de Cite Soleil, a região mais pobre e violenta da capital Porto Príncipe.

Muselier dispensou a escolta das tropas da ONU para realizar uma vista ao hospital. Quem acompanhou sua comitiva foi a Polícia Nacional. Ao chegar ao hospital, um grupo armado atacou a polícia. Houve tiroteio, enquanto a delegação francesa se isolou no dentro da unidade de saúde. Segundo informações da ONU no país, dois civis morreram e um policial haitiano ficou levemente ferido.

As tropas brasileiras, que integram a força de paz da ONU, foram chamadas para resolver a situação. "Pediram auxílio para gente e enviamos um pelotão e uma companhia para resgatar toda a equipe que estava em Citè Soleil. Entramos no local e retiramos todo o pessoal. Não trocamos tiros e a guangue se dispersou", relata o coronel Soares.

Atualmente, o Haiti é governado por um governo provisório. No início do ano, um levante popular forçou a queda do presidente Jean Bertrand Aristide. Em fevereiro, Aristide deixou o país em aviões das tropas norte-americanas.

Após resolução do Conselho de Segurança, a ONU enviou uma missão de paz ao país. Há previsão de eleições presidenciais para o próximo anos, apesar de ainda não existir nenhum cadastro confiável de eleitores. De acordo com informações do comando da ONU, a maior parte da população sequer possui carteira de identidade.