piadas racistas https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//taxonomy/term/147873/all pt-br Pesquisador da Unesp diz que piadas racistas reforçam padrão colonialista e estereótipos https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//noticia/2012-11-20/pesquisador-da-unesp-diz-que-piadas-racistas-reforcam-padrao-colonialista-e-estereotipos <p> <img alt="" src="http://agenciabrasil.ebc.com.br/ckfinder/userfiles/images/Reportagens Especiais/Consciência Negra/conscienciaNegra_materia.jpg" style="width: 720px; height: 140px;" /></p> <p> Isabela Vieira<br /> <em>Rep&oacute;rter da Ag&ecirc;ncia Brasil</em></p> <p> &nbsp;</p> <p> Rio de Janeiro - Piadas sobre negros ainda s&atilde;o usadas para desqualificar e marginalizar essa parcela da popula&ccedil;&atilde;o, critica o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Dagoberto Jos&eacute; da Fonseca, que pesquisa o tema desde a d&eacute;cada de 1980. &quot;Esse tipo de piada, de brincadeira, que n&atilde;o &eacute; nada inocente, tem o objetivo de rebaixar, de inferiorizar, de desqualificar o negro, de mostr&aacute;-lo como um animal, incompetente ou estigmatizar uma situa&ccedil;&atilde;o de pobreza pela qual passa boa parte dessa popula&ccedil;&atilde;o.&rdquo;</p> <p> Doutor em ci&ecirc;ncia sociais, ele come&ccedil;ou a pesquisar o tema depois de ouvir de um amigo uma piada racista ainda na faculdade. A anedota deu origem a uma tese de mestrado que, engavetada desde ent&atilde;o, foi resumida e ser&aacute; publicada no livro <em>Voc&ecirc; Conhece Aquela? A Piada, o Riso e o Racismo &agrave; Brasileira</em>, com previs&atilde;o de lan&ccedil;amento em dezembro.</p> <p> Em 133 p&aacute;ginas, o professor da Faculdade de Ci&ecirc;ncias e Letras da Unesp re&uacute;ne piadas em que os protagonistas s&atilde;o negros e aparecem como &ldquo;vadios, malandros, ladr&otilde;es&rdquo;. Em algumas dessas anedotas s&atilde;o comparados a doen&ccedil;as degenerativas, como c&acirc;ncer, ou t&ecirc;m caracter&iacute;sticas f&iacute;sicas, como o nariz e a boca, exageradas, refor&ccedil;ando estere&oacute;tipos.</p> <p> &Eacute; o caso da personagem Adelaide, do programa <em>Zorra Total</em>, da <strong>TV Globo</strong>. No quadro, ela &eacute; uma mulher negra, pobre, sem dentes, que se refere aos cabelos da pr&oacute;pria filha como &ldquo;palha de a&ccedil;o&rdquo;. As apari&ccedil;&otilde;es da personagem est&atilde;o sob an&aacute;lise no Minist&eacute;rio P&uacute;blico do Rio de Janeiro, que vai avaliar se h&aacute; racismo no programa, a pedido da Secretaria de Igualdade Racial (Seppir).</p> <p> &ldquo;A personagem Adelaide est&aacute; colocada dentro dos marcos do passado. Havia uma leitura nas piadas de que os negros eram pobres, desdentados e feios. Ela [a personagem] n&atilde;o rompe com o passado, como Mussum, Grande Otelo e Chocolate. Adelaide tem o nariz e os l&aacute;bios exageradamente alargados e o cabelo despenteado, em um clich&ecirc;, que, no final, a compara a um gorila&rdquo;, criticou.</p> <p> Sobre o tema da sexualidade, em um dos quatro cap&iacute;tulos da obra, Fonseca tamb&eacute;m critica o mito da pot&ecirc;ncia sexual, no caso dos homens, ou de lasc&iacute;via, no caso das mulheres. Segundo o professor, essas ideias surgem na coloniza&ccedil;&atilde;o tanto no Brasil quanto na &Aacute;frica e refletem teorias de um momento hist&oacute;rico em que o negro era tido como inferior.</p> <p> &ldquo;Quando a gente pensa em um negro brutamonte, est&aacute; associando o negro a um tarado, a um cavalo, a um touro, ou seja, voltamos para a quest&atilde;o da animaliza&ccedil;&atilde;o&rdquo;, ressaltou. &ldquo;Do outro lado, quando se remete &agrave; mulher negra, h&aacute; ideia de lascividade, de promiscuidade. Tudo vinculado ao processo colonial, em que o dono do corpo era quem escravizava&rdquo;, acrescenta.</p> <p> Para o professor, por tr&aacute;s das piadas racistas h&aacute; uma inten&ccedil;&atilde;o de buscar a &ldquo;padroniza&ccedil;&atilde;o&rdquo; do corpo, da beleza, por meio da valoriza&ccedil;&atilde;o de um &quot;ideal branco&rdquo;, o que tem impactos negativos, especialmente, entre as crian&ccedil;as negras. A tend&ecirc;ncia, explica o pesquisador, &eacute; que elas se sintam inferiores e tenham mais dificuldade para aprender.</p> <p> Em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; personagem Adelaide, a Central Globo de Comunica&ccedil;&atilde;o informou que o humor&iacute;stico &ldquo;&eacute; notadamente uma obra de fic&ccedil;&atilde;o, cuja cria&ccedil;&atilde;o art&iacute;stica est&aacute; amparada na liberdade de express&atilde;o&rdquo;. A nota acrescenta ainda que a personagem foi inspirada na av&oacute; de seu int&eacute;rprete e criador, o ator Rodrigo Sant&rsquo;anna.</p> <p> &nbsp;</p> <p> &nbsp;</p> <p> <em>Edi&ccedil;&atilde;o: Juliana Andrade e L&iacute;lian Beraldo</em></p> Dagoberto José da Fonseca Dia da Consciência Negra Nacional negros piadas racistas pretos Unesp Tue, 20 Nov 2012 13:32:49 +0000 lilian.beraldo 708201 at https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/