Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - É no meio de muito lixo, escombros, esgoto a céu aberto, moscas e ratos que resistem os moradores da Favela Metrô-Mangueira. Localizada perto do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, que será palco da final Copa da Mundo, a comunidade teve a demolição de casas retomada ontem (7) pela prefeitura, e os moradores reagiram à possibilidade de perda da casa com protestos de manhã e à noite. O policiamento foi reforçado hoje (8) para evitar novas manifestações.
As casas da favela estão sendo desapropriadas e destruídas desde 2010, pois está prevista a construção do Pólo Automotivo Mangueira no local. Entretanto, durante o processo de retirada dos moradores, outras famílias mudaram-se para Favela Metrô-Mangueira, ocupando casas já marcadas para demolição.
É o caso da aposentada Vera Lúcia Rios, de 70 anos, que vive com os quatro netos na comunidade. Ela sustenta as crianças depois que a filha, usuária de drogas, saiu e nunca mais voltou. “Vim para cá, para a invasão, porque tenho as crianças, não tenho como pagar aluguel. Tenho uma filha que virou cracuda [usuária de crack] há quatros anos e sumiu.”
Vera paga um empréstimo e sustenta a família com cerca de R$ 500 por mês. As crianças, com idade entre 6 e 12 anos, ajudam como podem. Uma delas auxilia na remoção de fios de cobre para um ferro-velho que fica colado na favela, na Avenida Radial Oeste.
Também com a casa para ser demolida, a doméstica Tatiane Souza Gardêncio, cobra auxílio da prefeitura para a mudança e pede um imóvel novo. Ela mora na comunidade há oito meses, com oito parentes, entre filhos e netos, depois de deixar a favela em Campo Grande, na zona oeste.“Eles [a prefeitura] falam que é invasão. Mas eu vou preferir morar na rua com os meus filhos do que na invasão? Não”, respondeu Tatiane. “Eu vim porque estava vazio. Peguei e entrei.”
De acordo com o agente da Pastoral de Favelas, Luís Severino da Silva, que acompanha a situação desde 2011, quando os moradores foram notificados para deixar o local, os imóveis em pé foram tomados por famílias em situação de vulnerabilidade extrema. “Tem que fazer uma triagem e realocar essas pessoas urgentemente. Botar todo mundo na rua não resolve”, afirmou.
Para Silva, a prefeitura falhou ao deixar os imóveis da Metrô-Mangueira em pé e despejar, agora, os novos moradores. “Essas pessoas não têm casa, nunca tiveram. Não adianta despejá-los, jogá-los na rua. Abrigo não funciona. A prefeitura tem que acolher”, reforçou.
A Secretaria Municipal de Habitação disse que as cerca de 630 famílias que viviam originalmente na comunidade foram reassentadas e que os moradores que posteriormente ocuparam os imóveis desapropriados estão inscritos no Programa Minha Casa, Minha Vida, aguardando o sorteio de uma nova moradia. A única alternativa para eles é a espera em abrigos da prefeitura.
Edição: Fábio Massalli
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