Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília - Para o Ministério das Relações Exteriores, o fato de apenas 19 dos 319 beneficiários das 530 bolsas de estudo concedidas ao longo de 11 anos terem sido aprovados no concurso de seleção para a carreira diplomática não coloca em questão a eficiência do programa de ação afirmativa do Instituto Rio Branco, que busca ampliar a diversidade étnica da carreira diplomática brasileira. Na avaliação do Itamaraty, os resultados do programa são mais evidentes quando o desempenho de bolsistas é comparado aos resultados obtidos por outros candidatos.
O Programa Bolsa Prêmio de Vocação para a Diplomacia do governo federal é dirigido a candidatos negros e oferece ajuda financeira para custear os estudos de preparação para o concurso de seleção de diplomatas do país. O Ministério das Relações Exteriores informou não ter estatística quanto ao atual número de diplomatas afrodescendentes.
“O percentual de aprovação de ex-bolsistas no concurso de admissão à carreira diplomática é várias vezes superior ao percentual de aprovados no conjunto dos candidatos. Dos 319 bolsistas [beneficiados entre 2002 e 2012], 19 foram aprovados no concurso de admissão. Isso corresponde a 6% do total. Um nível elevado de aproveitamento se considerarmos que [no geral] o percentual de aprovados tem oscilado entre menos de 0,5 % e cerca de 1,6% do total geral”, argumenta o Itamaraty, em nota.
As inscrições para a seleção da bolsa estão abertas e podem ser feitas pela internet. A bolsa oferece R$ 25 mil para que os candidatos negros selecionados paguem cursos preparatórios, professores particulares e material de estudo necessário para se preparar para a prova do Instituto Rio Branco. O benefício pode ser renovado até quatro vezes – desde que o candidato passe na seleção da bolsa em cada uma das renovações - totalizando um valor que pode chegar a R$ 125 mil por pessoa, em valores atuais.
“A concessão de bolsas prêmio tem melhorado, de forma concreta e decisiva, as condições de preparação para o concurso de admissão à carreira diplomática. Devido às limitações financeiras, os candidatos não teriam como se dedicar adequadamente à preparação para o concurso”, argumenta o Itamaraty, em nota enviada por sua assessoria de imprensa.
O Itamaraty ainda defende outro reflexo positivo das bolsas, além da formação de novos diplomatas afrodescendentes. “A bolsa prêmio tem servido de fator de aprimoramento intelectual e profissional para um conjunto significativo de jovens, melhorando sua inserção acadêmica e profissional. É sabido que diversos ex-bolsistas têm obtido sucesso em concursos para outras carreiras da administração pública, sendo esse um efeito secundário não negligenciável”.
Em 2011, o Instituto Rio Branco estabeleceu regras condicionando a renovação da bolsa ao desempenho no concurso de seleção para diplomatas. A primeira renovação do benefício é permitida a qualquer um, desde que novamente aprovado no processo seletivo para concessão das bolsas. A partir da segunda renovação, o candidato tem que ter chegado até determinada fase do concurso de admissão de diplomatas.
Perguntado se o limite de quatro renovações da bolsa não limitaria o número de beneficiários, o Itamaraty respondeu que qualquer mudança no programa tem que ser discutida com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e com a Fundação Palmares, parceiros da iniciativa.
Edição: Davi Oliveira
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