Leandra Felipe
Correspondente da Agência Brasil/EBC Bogotá
Bogotá – O governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) retomam hoje (23) em Havana, capital de Cuba, as negociações pelo fim dos conflitos no país. Um ano depois do início do diálogo, anunciado em outubro do ano passado, só houve acordo parcial sobre o primeiro tema da agenda – o desenvolvimento agrário. Desde junho, os negociadores debatem a participação política das Farc, em um eventual processo de paz.
Antes da saída da delegação de negociadores do governo para a 16ª rodada de conversações, o presidente Juan Manuel Santos pediu que o processo seja “acelerado”. O negociador-chefe, Humberto de la Calle, disse ontem (22) ter recebido instruções do governo neste sentido.
“O senhor presidente está avaliando o andamento do processo. E o propósito desta viagem para este ciclo é avançar, avançar e avançar em resultados”, disse o negociador, em declarações no palácio presidencial, após encontro com Santos.
A imprensa colombiana e alguns setores da sociedade civil e política criticam o “ritmo das negociações” e acusam as Farc de estarem “travando a velocidade do processo”.
Em resposta às críticas, o líder máximo das Farc, Rodrigo Londoño, chamado de Timochenko, enviou ontem (22) um comunicado em que nega que a guerrilha esteja impedindo que os diálogos avancem. Para ele, a verdadeira dificuldade “é a pressa eleitoral do governo Santos”, que no ano que vem poderá buscar a reeleição em maio
“Culpam-nos da lentidão em avançar no processo, de colocar vários tipos de obstáculos, de tentar sair da agenda e de enganar o país, mas a poucos meses de terminar seu mandato e pressionado pela necessidade de mostrar resultados que justifiquem sua reeleição, o presidente Santos observa com angústia seus planos militares de extermínio contra as Farc terem fracassado”, afirmou em tom duro.
A menos de um mês para que se cumpra um ano do início dos diálogos em Havana, as conversações mantêm o perfil privado, embora as Farc tenham manifestado o interesse de revelar detalhes do que vem sendo discutido.
As Farc já anunciaram interesse de que o país convoque uma Assembleia Constituinte, possibilidade rejeitada pelo governo. Do mesmo modo, a guerrilha discorda de um referendo no dia das eleições presidenciais do ano que vem para “validar” possíveis acordos das conversações. A proposta apresentada pelo Executivo ao Congresso foi acusada de “eleitoreira” pela cúpula negociadora das Farc.
O governo insiste em não mudar o foco das negociações e não sair dos seis itens pré-determinados: desenvolvimento agrário; participação política das Farc; soluções para o problema das drogas; reparação de vítimas; desarmamento e desmobilização de guerrilheiros; e garantias para o cumprimento dos pactos firmados.
Apesar do momento de descrédito, devido à falta de anúncios de resultados, a população colombiana já demonstrou apoio ao processo. Em abril, milhares de pessoas saíram às ruas em uma marcha de apoio às negociações.
O conflito armado colombiano é responsável pelo deslocamento interno de mais de 4 milhões de pessoas e aproximadamente 600 mil mortes em 49 anos de existência. As vítimas do conflito são de todos os atores do conflito - os paramilitares das Autodefesas Colombianas (AUC), grupo que entre 1990 e 2006 foi um contraponto armado às Farc; as guerrilhas; e também o Exército colombiano.
Edição: Davi Oliveira
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