Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Doze manifestantes sem-teto foram recebidos na tarde de hoje (15) pelo secretário adjunto de Relações Governamentais da prefeitura paulistana, José Pivato, para discutir as reivindicações do movimento, mas saíram do encontro frustrados. “A reunião foi muito ruim. Em primeiro lugar, não fomos recebidos pelo secretário João Antonio [Relações Governamentais], mas por um adjunto dele. E ele não se comprometeu com nada da pauta do movimento”, disse Guilherme Boulos, membro do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
“Particularmente, o despejo da ocupação do Parque Ipê, no Campo Limpo, que pode ocorrer sem ordem judicial, a qualquer momento, ele [Pivato] sequer se comprometeu a respeitar a legalidade que seria ter a ordem judicial para fazer o despejo”, completou.
A reunião ocorreu após manifestação dos sem-teto em frente ao prédio da Câmara Municipal e, depois, na sede da prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá, no centro da capital. Decepcionados com a conversa com Pivato, eles prometeram nova manifestação para quinta-feira (17), a partir das 9h, com concentração na Praça Ramos, no centro da cidade.
O objetivo do ato, segundo Boulos, é pressionar a prefeitura de São Paulo para que reconheça uma área no Parque Ipê, na zona oeste da capital, ocupada há uma semana por cerca de 400 famílias, como Zona Especial de Interesse Social (Zeis), ou seja, destinada à habitação social. A ideia inicial do movimento é protestar fazendo um acampamento em frente à prefeitura.
Uma outra pauta do movimento, levada hoje à prefeitura, os sem-teto pedem o fim dos despejos nas ocupações, principalmente com uso de força e sem ordem judicial.
Enquanto 12 representantes do movimento se reuniam com o secretário adjunto, o restante dos manifestantes protestava em frente à prefeitura, fechando o Viaduto do Chá. Eles estimaram a presença de 800 pessoas, enquanto a Polícia Militar informou cerca de 400 pessoas.
Procurada pela Agência Brasil, a secretaria declarou, por da assessoria, que estão sempre recebendo os movimentos sociais e que todas as pautas apresentada hoje serão analisadas e encaminhadas para as áreas correlatas.
A manifestação em frente à prefeitura foi pacífica. Mas o ato na Câmara Municipal foi marcado por confronto com policiais militares e guardas municipais. A confusão ocorreu quando os manifestantes, que tinham saído em caminhada da área de concentração do ato, na Praça da República, chegaram à sede da Câmara e tentaram entrar no prédio, sendo contidos pelos policiais, que usaram spray de pimenta e cassetetes.
A Polícia Militar informou para a reportagem da Agência Brasil que ainda não havia contabilizado o número de feridos entre policiais e manifestantes. “O pessoal estava a caminho da prefeitura, mas no meio do caminho decidiu vir para cá [na Câmara]. E eles entraram correndo [no prédio da Câmara]. A Casa é do povo e eles entrariam aqui normalmente, mas não dessa forma”, disse Flávio Augusto de Andrade, segundo sargento da Polícia Militar.
Segundo o policial militar, os manifestantes chegaram correndo, querendo invadir a o prédio da Câmara. ”Sempre verificamos porte de arma e coisas nesse sentido para evitar problemas maiores. Houve um princípio de tumulto, mas todo mundo se controlou e se saiu bem depois”, declarou. Para o policial, não houve excessos dos manifestantes e nem dos policiais. “A manifestação, a priori, era pacífica. No meio dela há sempre um ou outro que vem para badernar. Toda manifestação é legítima, desde que não haja baderna”, ressaltou.
Na Câmara Municipal, o mesmo grupo de 12 integrantes do movimento foram recebidos pelo presidente da Casa, o vereador José Américo (PT). Os manifestantes pediram aos vereadores para que o Plano Diretor seja votado até o fim deste ano e que sejam marcadas rapidamente as audiências públicas para discutir o plano. Um documento com oito reivindicações foi entregue aos vereadores.
“Na reunião ficou decidido o seguinte que alguns pontos eu fiquei de encaminhar. Por exemplo: dificultar a expulsão de moradores de área de risco sem ter uma perspectiva para essa pessoa e de aumentar as áreas destinadas para habitação de caráter social. Mas, sobre o que não há consenso, falei para eles procurarem um vereador e apresentar a proposta”, disse José Américo. Segundo o presidente da Câmara, a primeira audiência para tratar do assunto deve ocorrer no dia 26 de outubro.
Edição: Aécio Amado
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