Da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O velório da atriz e cineasta Norma Bengell, que morreu na madrugada de hoje (9) aos 78 anos, vítima de complicações decorrentes de um câncer de pulmão, começou às 18h no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul carioca. Até a manhã desta quinta-feira (10), o público poderá prestar sua última homenagem à atriz, que fez história no cinema nacional. O corpo de Norma Bengell será cremado amanhã, às 14h, no Cemitério do Caju, zona portuária do Rio.
A estreia da atriz nas telas de cinema ocorreu em 1959, com a comédia O Homem do Sputnik, quando Norma chamou a atenção ao fazer uma paródia da atriz francesa Brigitte Bardot. Carioca, a atriz, que nasceu em 21 de fevereiro de 1935, marcou a cinematografia nacional ao interpretar Leda no filme Os Cafajestes, de Ruy Guerra (1962), protagonizando a primeira cena de nu frontal do cinema brasileiro.
Também em 1962, Norma Bengell participou de O Pagador de Promessas, único filme brasileiro vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes. O sucesso do filme levou a atriz a uma carreira na Europa, onde conheceu o ator italiano Gabrielle Tinti, em 1963, com quem se casou, vindo a se separar em 1969. Por lá fez grandes filmes que foram sucesso de crítica, como Mafioso, do diretor Alberto Lattuada.
Em 1988, com o longa-metragem Eternamente Pagu, se tornou também diretora, função que desempenhou outras três vezes, com O Guarani, de 1996; Magda Tagliaferro - O Mundo Dentro de um Piano; e Infinitamente, ambos de 2005.
Para o produtor cultural Fabiano Canosa, que apresenta na Rádio MEC FM o programa sobre cinema Kinoscope, o legado que a atriz deixa para a cultura está em cada filme que participou. "Conheço ela desde a época em que ela fez Os Cafajestes, do Ruy Guerra, que foi um filme que escandalizou o mundo e fez dela um enorme sucesso internacional. Norma era uma atriz de grande capacidade, e isso se comprova quando olha os diretores com quem ela trabalhou, como Glauber Rocha e o próprio Ruy Guerra. Ela era uma sábia, uma mestra e infelizmente, nos últimos anos, foi muito difícil para ela se adaptar ao mundo do qual ela era muito mais uma representante do estilo poético de interpretar e do agir como ser humano. Isso é uma coisa que, infelizmente, não está muito na moda atualmente", disse Canosa, que este ano preside o júri do Festival do Rio.
A atriz também fez história ao lutar contra a ditadura militar, além de ser conhecida por defender a bandeira feminista. "Ela dirigiu O Guarani justamente por causa dos princípios cívicos que ela assumia com relação à vida. Ela foi muito injustiçada nos anos da ditadura, a prenderam e a trataram muito mal. Ela, como uma pessoa independente, sendo mulher, teve um pouco de dificuldade, mas ela saiu muito bem porque tinha caráter. Só pelo trabalho que ela fez no cinema com as interpretações dela, ela aponta um rumo. O norte dela sempre foi atuar bem e ser uma grande profissional e mulher", elogiou Canosa.
A Secretaria Estadual de Cultura lamentou, em nota, a morte da atriz, manifestando pesar pela "enorme perda de Norma Bengell, eterna musa do cinema nacional, artista e realizadora incansável".
Edição: Fábio Massalli
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