Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília – Lideranças indígenas de Mato Grosso do Sul afirmam que não vão deixar o prédio do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) de Campo Grande (MS) até que suas reinvindicações sejam atendidas. A unidade gestora do sistema responsável pela saúde de cerca de 69 mil índios de 202 aldeias está ocupada desde o último dia 18. Ontem (2), a Justiça Federal determinou a reintegração da posse do prédio.
Os índios reclamam da falta de remédios nas aldeias e afirmam que o atendimento médico é precário. Segundo Otoniel Terena, um dos 70 índios que ocupam o prédio do Dsei, o “descaso com a saúde índigena” também se reflete na falta de estrutura que compromete o trabalho dos profissionais da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, com falta de material e carros sucateados e quebrados.
“Os R$ 45 milhões do orçamento anual não estão aparecendo nos [15] polos base e nas [três] casas de Saúde do Índio [Casais]. Nossos parentes continuam morrendo por falta de atendimento, de medicamentos e de estrutura”, disse Otoniel à Agência Brasil.
Representantes de oito etnias sul-matogrossenses, os índios que ocupam a Dsei pedem a imediata exoneração do coordenador do Distrito, Nelson Carmelo Olazar. O movimento também pede que a coordenação passe a ser ocupada por um índio apto a exercer a função e que seja indicado pelas lideranças indígenas.
“Entendemos que a atual gestão não deu e não está dando certo. Queremos a imediata exoneração do atual coordenador e que, em seu lugar, assuma um índio, já que temos gente capacitada para isso e que é quem melhor entende nossas necessidades”, acrescentou Otoniel.
Os índios garantem que a ocupação do prédio é pacífica, que nenhum servidor foi impedido de trabalhar e que não houve depredação do patrimônio público. E que, apesar de decisão judicial, tentariam negociar a permanência do grupo no local.
“Não demos motivo para a reintegração de posse. Até porque esse prédio é nosso, dos povos indígenas. Entendemos que a Justiça deve se manifestar a nosso favor, já que nossas reivindicações são justas”, argumentou Otoniel.
Já o coordenador do Dsei, Nelson Olazar, disse à Agência Brasil que, embora os funcionários estejam trabalhando nas outras unidades da Sesai existententes em Campo Grande, a ocupação do prédio principal, onde trabalham 60 servidores, compromete as ações do órgão.
“Paralisa ou atrapalha todos os processos de aquisição, tanto de insumos [médicos], quanto de material necessário às obras. O funcionamento do Disei é prejudicado. Nossas equipes estão trabalhando nas outras unidades para que não haja prejuízo às atividades na ponta, mas algumas solicitações infelizmente não podem ser atendidas dessa forma”, disse Olazar.
“Eles [índios] não estão reivindicando melhorias, mas sim ocupar cargos da Sesai. Esse foi o grande motivo que os levou a invadir o prédio. Dialogamos quando se trata de reivindicar melhorias. E a Sesai tem investido bastante. Só que, para corrigirmos todos os problemas, o tempo foi curto”, comentou o coordenador.
A Agência Brasil entrou em contato com a Sesai, do Ministério da Saúde, para saber a posição da secretaria em relação às reivindicações indígenas, mas ainda não recebeu resposta.
Edição: Valéria Aguiar
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