Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A Comissão Municipal da Verdade de São Paulo ouviu hoje (1) o ex-motorista Josias Nunes de Oliveira, uma das testemunhas do acidente que matou o ex-presidente da República Juscelino Kubitschek, em 1976. Em seu depoimento, Oliveira disse que, no dia 22 de agosto de 1976, dirigia um ônibus da Viação Cometa pela Rodovia Presidente Dutra, no sentido São Paulo-Rio de Janeiro. Na altura do município fluminense de Resende, o Opala, em que estava Juscelino, cruzou a frente do ônibus e foi parar na pista contrária, colidindo com um caminhão.
“Eu estava na faixa da esquerda e o carro de JK estava na da direita, em uma velocidade um pouco maior que a minha. De repente, tinha uma curva leve para a direita e o motorista do Juscelino continuou em linha reta. Como naquela época a Dutra não tinha guard rail [proteção lateral na pista], o carro atravessou [a pista] sem o menor problema”, disse.
Oliveira relatou ainda que, logo após o acidente, parou o ônibus no acostamento e se aproximou do veículo acidentado para prestar socorro. “JK não morreu logo depois da batida, ele chegou a mexer os olhos. Eu não o reconheci logo de primeira. Ele estava no banco de trás com o livro As Mudas se Levantam, e eu só descobri que era o ex-presidente quando vi uns documentos que caíram de uma pasta”, declarou.
Anos depois, Oliveira foi processado como responsável pelo acidente, mas o julgamento o inocentou. “Minha vida piorou bastante. O mundo inteiro me acusou de criminoso”, disse.
Em agosto, a comissão já havia ouvido quatro pessoas, entre elas, o ex-secretário de JK, Serafim Jardim, autor do livro Juscelino Kubitschek: Onde Está a Verdade? A publicação apresenta dados que questionam a morte do ex-presidente.
A versão oficial do acidente aponta que Juscelino morreu em agosto de 1976 em um acidente de trânsito na Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. O carro em que ele estava colidiu com uma carreta após ter sido fechado por um ônibus. O acidente também matou o motorista do ex-presidente, Geraldo Ribeiro. No entanto, a versão de morte acidental é contestada há anos por alguns órgãos e pessoas, entre eles, Serafim Jardim.
Em setembro, a comissão pediu à Justiça a exumação do corpo de Geraldo Ribeiro. Em 1996, uma perícia feita pela Polícia Civil de Minas Gerais no corpo do motorista apontou a existência de um fragmento metálico no crânio. A explicação dada à época era que se tratava de um prego do caixão, mas a comissão acredita que possa ser um projétil de arma de fogo, o que indicaria que o ex-presidente foi vítima de um atentado.
“Alguns dias depois do acidente, dois caras cabeludos que se diziam repórteres foram até a minha casa e ofereceram uma grande quantia de dinheiro para que eu assumisse a culpa pela morte do Juscelino. Se eu não aceitasse, eles disseram que iriam bater em mim. Eu não aceitei o dinheiro, e eles nunca mais me procuraram. Não lembro o nome deles e nem de qual veículo eram”, disse o motorista do ônibus durante o depoimento.
Edição: Aécio Amado
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