Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A violência e crimes como roubo e furto estão entre os principais problemas decorrentes da presença do crack nos municípios da região de fronteira do Brasil, segundo a pesquisa Crack na Fronteira Brasileira, apresentado hoje (30) pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
Entre os municípios que responderam ao questionário disponibilizado pela CNM para a pesquisa na Região Norte, 86% disseram que têm problemas com todos os tipos de droga e 59% disseram ter problemas especificamente relacionados ao crack. Entre eles, a violência foi o que apareceu com maior freqüência, com 21% dos municípios o listando em primeiro lugar. Em seguida, 19% apontaram os furtos como principais problemas e 18% apontaram os homicídios. Roubos, com 16%, e exploração sexual, com 11%, também chamam a atenção.
“Há uma certa constância desses principais itens em todas as regiões do país [que passaram pela pesquisa]”, disse o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski. Segundo ele, o Brasil não tem conseguido avançar no combate ao crack e o que se tem observado nos últimos anos é que os municípios na faixa de fronteira têm sofrido fortemente.
No caso da Região Centro-Oeste, onde 76% dos municípios que responderam ao questionário disseram ser rota de tráfico e 85% das prefeituras declararam ter problemas específicos relacionados ao crack, violência, roubo e furto foram apontados como os principais problemas, com 19% dos municípios apontando os dois primeiros itens e 18% indicando o último. As secretarias municipais de Saúde e de Assistência Social, responsáveis por responder a pesquisa, também apontaram, em 15% dos casos, o aliciamento de crianças como conseqüência da presença da droga.
Seguindo a mesma tendência, 20% dos municípios de fronteira na Região Sul indicaram roubos e furtos como os principais problemas relacionados ao crack. Em seguida, aparece a violência, em 19% dos municípios. No Sul, 65% dos secretários que responderam às perguntas disseram ter problemas específicos relacionados com a droga.
Na opinião de Ziulkoski, um conjunto de fatores vem gerando esses problemas. O primeiro é a falta de uma política federativa de combate ao crack. O presidente da CNM alega que não há sequer dados para estruturar uma política nacional de combate à droga. “Não temos estrutura nenhuma. Não há uma política federativa. Quando ligamos, as prefeituras não têm dados para informar e a maioria dos que têm, está anotado a mão. Não existe um sistema de computador para sistematizar os dados”, exemplifica.
Ziulkoski diz que os municípios não têm condição de arcar sozinhos com prevenção, combate e tratamento dos viciados e reclama da falta de investimentos do governo federal e dos estados. “A maioria dos recursos que são publicados no Diário Oficial como destinados ao programa de combate ao crack são aplicados em programas que já existiam no governo federal, relacionados à área de assistência social. É o caso dos recursos destinados a criação de Caps [centros de Atenção Psicossocial], que servem para tratar os viciados em crack também, mas atendem a diversas outras demandas”, alega.
O presidente da CNM também acusa os estados de não investirem na presença das polícias Civil e Militar nos municípios, além de não atuarem na fiscalização interna. Ele cita como exemplo a facilidade de acesso a produtos químicos utilizados para transformar a pasta-base de cocaína em crack (a droga é obtida a partir da mistura da pasta-base de coca ou cocaína refinada, com bicarbonato de sódio e água). “Se por um lado não há controle das fronteiras, por outro não há controle interno das indústrias químicas por parte dos estados. E, no fim, os municípios estão sofrendo”, aponta.
Edição: Fábio Massalli
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