Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A maioria dos delegados da Polícia Federal (PF) sente-se segura, confortável e respeitada em seu ambiente de trabalho. No entanto, 64% não se sentem estimulados e 61% dizem que têm reconhecimento pela atividade exercida. Para 98,37% da categoria, o principal problema é o número insuficiente de servidores administrativos do Departamento de Polícia Federal (DPF), informa pesquisa divulgada hoje (23) pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF).
Para os delegados, não basta aumentar o efetivo de servidores na área administrativa – 72,81% deles entendem que é preciso também melhorar os critérios de divisão das tarefas investigativas e administrativas.
“Somos 11,5 mil policiais, enquanto há apenas 2,5 mil administrativos nos dando apoio. Isso é ilógico. Precisamos reorganizar a atividade administrativa. Caso contrário, continuaremos tendo de desviar policiais da atividade de investigação. E isso, do nosso ponto de vista, não é o que a sociedade espera”, disse o presidente da ADPF, Marcos Leôncio Ribeiro. Segundo ele, “o ideal seria que o DPF tivesse pelo menos o triplo” de pessoas na área administrativa.
Para o delegado, essa carência pode prejudicar o trabalho da PF nos grandes eventos previstos para o país, como a Copa do Mundo, no ano que vem, e os Jogos Olímpicos, em 2016, no Rio de Janeiro. “Esse é um dilema que a PF tem de enfrentar, porque, com o efetivo atual, ela não consegue fazer ao mesmo tempo segurança de grandes eventos e investigar. Precisamos, ou aumentar o efetivo para dar conta das duas atividades, ou priorizar o que acreditamos que a sociedade brasileira realmente quer”, disse Ribeiro.
O delegado lembrou a visita do papa Francisco ao Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude, e a Copa das Confederações, eventos que ocorreram em meados deste ano, e questionou: “O que queremos? Que a PF seja uma polícia que investiga ou que participe dos grandes eventos?. Do nosso ponto de vista, a sociedade quer uma polícia que investigue.”
Na opinião de Ribeiro, a Polícia Federal, tem “boa” estrutura física. “Nosso grande problema está na gestão de recursos humanos, nas relações interpessoais e no cuidado com o que há de mais valioso na Polícia Federal, que é o seu servidor, tanto policial quanto administrativo.”
Segundo ele, a consequência do baixo número de servidores administrativos é que não há ninguém cuidando dessa que é uma das atividades mais estressantes do mundo. "Não temos acompanhamento psicológico para o caso de policiais que, no desempenho da atividade ou em legítima defesa, disparam contra alguém. Não é à toa que, nos últimos dois anos, houve 25 suicídios de servidores do DPF. Destes, pelo menos dois eram delegados”, ressaltou.
Para Ribeiro, dois fatores explicam o alto índice de suicídios no departamento: a facilidade de acesso a armas e a “insensibilidade do DPF” para enxergar que o servidor enfrenta problemas. “Se houvesse acompanhamento psicossocial, pela nossa área administrativa, esse índice [de suicidas] certamente seria menor, porque [ao identificar o risco] o uso da arma poderia ser vetado”, acrescentou o delegado. Para 56,74% dos pesquisados, faltam profissionais de psicologia e assistência social em seus locais de trabalho. "O número de policiais deprimidos ou vítimas de alcoolismo também assusta", acrescentou Ribeiro.
Os delegados demonstram, porém, satisfação com as condições de trabalho. Para 51%, o espaço físico é adequado e são satisfatórios, em termos de quantidade e qualidade, os armamentos e coletes (66,43% dos entrevistados), material de expediente (67,98%), equipamentos de telefonia e fax (76,13%) e veículos usados pela corporação (43%). “São números considerados positivos, principalmente porque, no passado, eram muito piores”, disse Ribeiro.
“Apesar de, em geral, os serviços de segurança e incêndio dos prédios da PF terem boa qualidade, chama a atenção o fato de a sede [localizada em Brasília] não ter escadas de incêndio. Preocupa-nos também a terceirização dos serviços de tecnologia da informação porque isso representa risco [à segurança de informações consideradas sigilosas]”, completou o dirigente da ADPF.
Edição: Nádia Franco
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