Daniel Lima e Kelly Oliveira
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – O economista e professor aposentado da Universidade de Brasília, Dércio Munhoz, considerou precipitada a decisão do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, de manter o programa de estímulo à economia norte-americana. Para ele, a decisão coloca dúvidas sobre a intensidade da crise que afeta aquele país.
“A mensagem do Fed seria a de que a crise continua com a mesma intensidade? Então, a gente poderia dizer que a decisão, da forma como foi tomada, teria sido precipitada. A dúvida que se tem é se a crise americana continua imutável. Parece que não”, disse à Agência Brasil.
O professor também destacou que a decisão surpreendeu, em parte, porque todos esperavam que o Fed seguiria o que já havia anunciado anteriormente, iniciando a redução da compra de títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Para ele, aquela decisão não foi equivocada, porque “não se pode jogar US$ 85 bilhões [cerca de R$ 187 bilhões] na rua” todo mês.
“Por uma razão simples. Para jogar esse volume de recursos, você tem que emitir moeda. Onde é que o Fed vai arranjar dinheiro para todos os meses retirar US$ 85 bilhões em papéis? No ano, é perto de US$ 1 trilhão [cerca de R$ 2,2 trilhões]”, explicou.
Sobre a “precipitação” da decisão do Fed, o professor Dércio Munhoz disse que a crise da economia norte-americana, segundo vários indicadores, não continuaria mais com a mesma intensidade. Para ele, o Fed não poderia, agora, voltar atrás no que foi decidido há dois meses, de reduzir paulatinamente a compra de papéis.
“É uma decisão precipitada. Ou seja, eliminou, temporariamente, a hipótese de reduzir a compra de papéis. E, consequentemente, adotou uma antiga política, pelo menos por enquanto, de emissão de papel-moeda para a compra de títulos do Tesouro”, analisou. Para ele, com a decisão, o Fed disse aos Estados Unidos e ao mundo que a “crise americana continua preocupante”.
Dércio Munhoz foi enfático ao garantir que não há razão para o mercado ficar eufórico com a decisão. Para ele, “se o americano parar de jogar dinheiro na praça e parar de recolher títulos, isso significa que a taxa de juros vai aumentar nos Estados Unidos”. De acordo com o economista, o aumento dos juros norte-americanos atrairia, então, o capital especulativo internacional, deixando as economias emergentes em dificuldade.
Por enquanto, como o governo americano vai continuar colocando US$ 85 bilhões no mercado, o economista avalia que sobrará capital de curto prazo para o Brasil. “É importante notar que existe uma visão irrealista do mercado sobre a situação, porque o meu problema não é a política econômica dos Estados Unidos. Com o dólar valorizado, temos um aumento muito grande do desequilíbrio do balanço de pagamentos, um dos principais indicadores das contas externas”, explicou.
Com um desequilíbrio grande no balanço de pagamentos, o país não consegue se financiar com o ingresso de recursos como os investimentos diretos ou os empréstimos intercompanhias, aumentando a dependência do capital especulativo. Por isso, informou, não é hora de o país ficar eufórico. Até porque, explicou, perante as instituições internacionais, o Brasil é um país com taxa de câmbio muito valorizada e, consequentemente, com um desequilíbrio muito grande no balanço de pagamentos.
“Esse problema permanece e, se continuar, nós não podemos imaginar que o capital especulativo vai continuar fluindo como fluiu no período do Lula, por exemplo, quando entraram mais de US$ 1 trilhão de dólares em especulativos aqui e saíram perto de US$ 900 bilhões”.
Edição: Davi Oliveira
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