Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Graduado em filosofia, história e psicologia, com doutorado em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorando em literatura pela Universidade Federal de São Carlos, o escritor Daniel Munduruku disse hoje (10) à Agência Brasil que a literatura indígena se encontra em plena ascensão no país.
De acordo com Daniel, hoje, no Brasil, existe uma literatura escrita na própria língua dos povos indígenas, que fica mais restrita às comunidades, porque tem um número limitado de leitores. “Não é um livro comercial”, explicou. Por outro lado, existe outro grupo de escritores que estão produzindo comercialmente livros para serem adotados nas escolas não indígenas brasileiras.
Com base nesse dado, ele informou que há hoje, no país, em torno de 35 autores indígenas que estão publicando regularmente suas obras, alguns com muitos títulos e outros ainda iniciando sua produção. “O mercado hoje tem mais de 100 títulos escritos por autores indígenas. É um número expressivo”, disse.
Nascido em Belém, em 28 de fevereiro de 1964, e pertencente à etnia indígena munduruku, Daniel é um exemplo do espaço que a literatura étnica indígena assumiu no país. Dedicado principalmente à literatura infantil, ele tem 43 livros publicados por diversas editoras. Atualmente, Daniel vive em Lorena (SP), onde é membro da academia de letras local.
Segundo informou, até há cerca de 15 anos, não havia esse movimento literário indígena no Brasil. “Tudo foi construído nesses últimos 15 anos e houve, sim, muitas vitórias e conquistas nesse período todo, haja vista a demanda que existe hoje pela literatura indígena e por autores indígenas”.
Daniel Munduruku avaliou que a Lei 11.645/2008, que estabeleceu a obrigatoriedade de as escolas brasileiras públicas e privadas trabalharem a temática indígena em todo o currículo, desde o ensino fundamental até o médio, contribuiu para impulsionar essa produção literária.
“Isso fez com que houvesse um interesse maior por parte das editoras na parte da produção e, é claro, isso demandou, da parte do governo, a aquisição de livros sobre essa temática indígena para enviar às escolas”. O crescimento foi tão grande, disse Munduruku, que os próprios indígenas que escrevem “não conseguem dar conta, tamanha a demanda que está hoje nos solicitando”.
Daniel reconheceu que “ainda se percebe muito no país a repetição do estereótipo”, mas acredita que a aproximação entre os escritores indígenas e o restante da população contribui para desmistificar ideias errôneas sobre os povos indígenas e eliminar preconceitos. “A gente tem trabalhado nessa direção”. Explicou que, quando o movimento literário indígena teve início, os autores queriam ajudar o Brasil a se conhecer e a repensar sua própria identidade.
Edição: Davi Oliveira
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