Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A série de ataques a bomba no Iraque, que por enquanto matou pelo menos 75 pessoas e feriu mais de 200, coloca o país em alerta, assim como as autoridades locais e estrangeiras. No total, mais de 600 pessoas foram mortas no país desde o início do mês. O primeiro embaixador do Brasil no Iraque, Ánuar Nahes, disse que a tensão é agravada, sobretudo, pelas questões políticas e não religiosas. Mas ele também adverte que há o peso econômico envolvendo o tráfico e contrabando de armas.
“O que há hoje no Iraque não é, definitivamente, uma guerra religiosa, embora haja uma disputa também entre xiitas e sunitas [duas das grandes correntes do islamismo]. O que existe é uma disputa política, pois cada grupo tem seu braço armado. Há a presença de guerrilhas apoiando vários setores . O que a maioria das guerrilhas quer é desestabilizar o governo para ampliar seu espaço político”, disse Nahes, que assumiu a embaixada depois de 21 anos sem representação brasileira no Iraque.
No país há quase um ano e meio, Nahes buscou entender o modo de raciocinar e de comandar dos iraquianos. Ele lembrou que o Iraque reúne várias tribos de etnias e culturas distintas, cujo elo se resume, na maior parte dos casos, apenas à religião muçulmana. Porém, no islamismo, também há distintas correntes internas, como os sunitas e xiitas que, em alguns países, disputam o poder.
No caso do Iraque, os chamados rebeldes armados, em geral, são ligados aos sunitas e se militarizaram por intermédio do contrabando de armas, que passa pelas fronteiras sem muitas restrições. Esses grupos mantêm vínculos com a Al Qaeda e reivindicam mais espaço político. Em abril de 2014, haverá eleições no país, aumentando ainda mais a disputa.
“É preciso analisar o que ocorre no Iraque em um ambiente de disputa política e econômica, pois os armamentos também estão presentes na economia do país. Não se pode limitar a avaliação à questão religiosa, não é isso”, ressaltou o embaixador.
Nahes reiterou que há grande interesse das autoridades iraquianas em conhecer os detalhes dos programas de transferência de renda do Brasil e fazer parcerias comerciais e técnicas. Internamente, as autoridades buscam a reconstrução do país, que vive em clima de guerra há quase dez anos.
Vizinho do Irã, da Turquia e da Arábia Saudita, o Iraque foi dominado nos últimos nove anos por forças estrangeiras em apoio à campanha dos Estados Unidos contra o terrorismo. Em março de 2003, o país foi invadido por tropas militares, comandadas pelos norte-americanos, que suspeitavam da existência de arsenais de armas químicas e nucleares na região.
Em dezembro de 2011, as tropas norte-americanas e aliadas iniciaram o processo de saída do país. Logo depois dos ataques de 11 de setembro de 2011, o então presidente norte-americano, George W. Bush, disse que o Iraque “pertencia ao eixo do mal”, assim como a Coreia do Norte e o Irã.
Edição: Graça Adjuto
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