Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O ministro da Cultura da Alemanha, Bernd Neumann, disse hoje (22) que aumentar os investimentos em programas e ações de cultura, principalmente em áreas carentes, é fundamental para estimular o desenvolvimento dos países e a inclusão das populações menos favorecidas. Em visita ao Congresso Nacional, Neumann destacou que seu país foi o único, entre as 28 nações que integram a União Europeia, que conseguiu elevar os recursos destinados à área da cultura no Orçamento deste ano.
"Em um momento de crise econômica, em que todo mundo precisa apertar o cinto, não é normal que o orçamento da cultura seja aumentado. Neste ponto, somos uma exceção na Europa. Em todos os outros [países], ou [o orçamento da área] diminuiu ou, na melhor das hipóteses, estagnou", disse o ministro durante encontro com a parlamentares na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. Neumann faria um discurso, nesta manhã, em audiência pública no Senado, mas o evento foi cancelado.
De acordo com o ministro alemão, o Parlamento foi o grande aliado para garantir uma fatia maior de recursos, por entender que gastos com educação são, na verdade, investimento no futuro das crianças e por perceber que o impacto da elevação seria pequeno nas contas do país, já que os valores destinados à área representam uma pequena proporção do orçamento geral. Segundo Neumann, o volume de recursos aplicados em cultura na Alemanha varia entre 0,8% e 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, o percentual o percentual é 0,6% do PIB, ressaltou.
"O governo apresentou a proposta orçamentária ao Parlamento, que previa um pequeno aumento para a área de cultura. O Parlamento disse: 'você tem esse pequeno aumento e ganha mais 100 milhões [de euros] para ampliar as atividades'", contou Neumann aos parlamentares brasileiros, sem informar, no entanto, o percentual de aumento que foi aprovado.
Para o presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado, Cyro Miranda (PSDB-GO), a medida adotada na Alemanha deve servir de exemplo para o Brasil. Ele acredita que a troca de experiências entre os dois países pode ajudar os políticos brasileiros a ter um novo olhar sobre o setor. "Não se faz a diferença em um país, se não houver investimento em cultura e em educação. E o reflexo disso é tão grande que o país passa a precisar gastar menos dinheiro em saúde, por exemplo, porque tem um povo mais preparado e mais politizado. Com isso, pode melhorar também o nível de seus parlamentos", destacou.
Ainda durante o encontro, o ministro da Cultura alemão, que também responde pela área de mídia no país, defendeu a liberdade "ilimitada" de imprensa. Segundo ele, no modelo alemão, o governo não interfere na programação e no que é divulgado pelos veículos de comunicação. "Trata-se do quarto Poder do Estado e é importante [que seja livre] para que uma democracia funcione."
Na reunião, Neumann lembrou a participação do Brasil como país anfitrião da Feira do Livro de Frankfurt, a maior feira do livro do mundo, que ocorrerá em outubro. Ele ressaltou que a ministra da Cultura brasileira, Marta Suplicy, participará da abertura do evento e informou que lançará, durante a feira, um projeto cultural envolvendo os dois países relacionado ao futebol. "Os alemães, quando veem que os brasileiros estão chegando, mesmo que seja para uma feira do livro, pensam em futebol e na Copa do Mundo do ano que vem", disse Neumann, sem detalhar, no entanto, as ações que integrarão o projeto.
Após o encontro na comissão, o ministro alemão visitou o plenário do Senado e da Câmara dos Deputados. Ele está há uma semana no Brasil, onde se reuniu com representantes da área cultural em Brasília, no Rio de Janeiro e em Salvador. A visita faz parte da Temporada da Alemanha no Brasil, inaugurada oficialmente em maio deste ano pelos presidentes da Alemanha e do Brasil, Joachim Gauck e Dilma Rousseff, e tem como principal objetivo a intensificação das relações culturais entre os dois paísea, com ênfase na mídia e no cinema.
Em Brasília, Neumann se reunirá, nesta tarde, com o presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Nelson Breve.
Edição: Nádia Franco
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