Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Daqui a dez dias, municípios que sofrem com a falta de médicos no país começarão a receber os primeiros profissionais selecionados pelo Programa Mais Médicos, do governo federal. Hoje (22), na capital paulista, representantes das secretarias municipais de Saúde de São Paulo, que vivem a expectativa de uma solução imediata para a carência de profissionais, tiveram a oportunidade de esclarecer detalhes sobre o programa e se preparar para a chegada dos médicos.
No dia 2 de setembro, começam a trabalhar os 55 brasileiros selecionados e, no dia 16, será a vez dos 47 estrangeiros. Eles vão atuar em 27 cidades paulistas. O número, no entanto, atende somente a 5% da demanda indicada pelos municípios. Entre as principais dúvidas expostas na atividade, que foi convocada pelo Ministério da Saúde, estava a questão dos custos que devem ser assumidos pelos municípios, como moradia e alimentação.
O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, esclareceu que não foram definidos valores mínimos ou máximos para o custeio. "As realidades do país são muito diferentes. Não é possível dizer que um valor considerado bom para São Paulo deverá ser o mesmo para uma cidade do Amazonas, por exemplo. Por isso, deixamos a critério da prefeitura tomar essa decisão", explicou.
Os representantes também foram informados que será responsabilidade das prefeituras oferecer ao médico o traslado do aeroporto até o município onde prestará o serviço. "São as contrapartidas", esclareceu Barbosa. Descontos na bolsa, décimo terceiro salário e custos com Previdência Social fizeram parte do bloco de dúvidas dos gestores. O secretário explicou que o salário líquido será R$ 10 mil, que serão pagos em 12 parcelas no ano. "A previdência é responsabilidade do governo federal. Não há necessidade de nenhum outro tipo de contrato", disse.
O município de Biritiba Mirim, a cerca de 85 quilômetros da capital paulista, solicitou três médicos e será atendido. "A gente tem muita dificuldade de manter esses profissionais. Tivemos um que ficou um mês e foi embora. A rotatividade é muito grande", lamentou. Agora, ela espera que as vantagens oferecidas no programa possam fixar os médicos por um tempo maior. "Não sei se vai ser diferente agora, mas estamos apostando”. Segundo a secretária, a cidade tem cerca de 30 mil habitantes e depende dos programas federais para oferecer os serviços de saúde.
Estela Gianesella, secretária de Saúde de Bragança Paulista, a cerca de 90 quilômetros de São Paulo, avalia que, atualmente, as prefeituras são reféns dos médicos. "Há uma verdadeira briga entre os municípios. No último mês, tivemos que pagar uma gratificação, porque a prefeitura vizinha já estava oferecendo um salário maior", relatou. Ela apontou que a presença de uma faculdade de medicina no município ajuda a manter os médicos na região, mas que isso não resolve por completo o problema. "Depois de formados, eles ficam um tempo no Programa Saúde da Família, mas depois mudam".
A prefeitura de Bragança Paulista tentou solicitar cinco profissionais para atendimento em unidades rurais, mas não conseguiu fazer o cadastro, porque essas unidades não pertencem ao Saúde da Família. "Não conseguimos cadastrar nesta fase, mas fomos informados que esse tipo de situação será analisada pelo ministério. Enquanto isso, estou sem médico [na zona rural]", explicou. Ela disse, no entanto, que a situação na zona urbana é menos complicada. "Há momentos que falta, mas não temos tanta dificuldade", disse.
A secretária de Arujá, Clarinda Carneiro, está com tudo pronto para recepcionar os três médicos que irão para a cidade. "Solicitamos 13, mas não fomos atendidos por completo. Como o programa continua, esperamos ser contemplados nos próximos meses", declarou. Ela informou que receberá dois médicos brasileiros e um cubano. "Inclusive um dos brasileiros é um médico de 80 anos, morador de Guarulhos. Isso é legal destacar. Já mantivemos contato com eles e estamos aguardando a chegada".
Clarinda espera que a vinda dos médicos estrangeiros equilibre a oferta de médicos no mercado. "Tem muito emprego, então eles ficam enquanto for conveniente. Hoje o serviço público funciona como bico, existe essa cultura. Eles ganham o mesmo ou até menos no particular, mas lá eles cumprem horário. Isso é lamentável", criticou.
Edição: Fábio Massalli
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