Vinícius Lisboa
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Três militares convocados para depor hoje (14) em uma audiência pública da Comissão Estadual da Verdade do Rio em conjunto com a Comissão Nacional da Verdade (CNV) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) não compareceram. Eles alegam já ter prestado esclarecimento à comissão e já responderem judicialmente pelo sequestro, tortura e morte do líder comunista Mário Alves, em 1970. As comissões reiteraram o pedido sob pena de condução coercitiva ao depoimento.
De acordo com o advogado Rodrigo Rocca, que representou os ex-tenentes do Exército Luiz Mário Correia Lima, Roberto Duque Estrada e Dulene Garcez, a ausência não se dá por "desprestígio ou descaso, mas por já terem deposto pelo mesmo fato”. "Eles se reservam a nada mais declarar além do que já disseram", disse Rocca.
O presidente da Comissão Estadual da Verdade e da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro, Wadih Damous, despachou em conjunto com a coordenadora da CNV, Rosa Cardoso, uma reiteração da convocação. "Entendemos que estão obrigados a vir, ainda que fiquem em silêncio", enfatizou. "Não aceitamos as ponderações. Eles serão conduzidos coercitivamente a se apresentar e estão passíveis de ação penal por parte do Ministério Público", completou.
Rosa Cardoso explicou que as comissões são instâncias diferentes da Justiça, e com objetivos diferentes. "Despachamos uma representação para o Ministério Público para que seja ajuizada denúncia por crime de desobediência."
O outro convocado, o ex-major do Corpo de Bombeiros Valter da Costa Jacarandá, compareceu à Alerj, e ainda pode se apresentar para depor.
De acordo com depoimentos e relatos anteriores, Mário Alves foi espancado, eletrocutado e submetido a afogamentos durante uma noite no 1º Batalhão de Polícia do Exército, na zona norte do Rio, onde funcionou o Destacamento de Operações de Informações (DOI), braço operacional dos centros de Operações de Defesa Interna (Codi). O líder da esquerda armada e secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário morreu devido a hemorragias internas pelo empalamento com um cassetete de aço com estrias.
Edição: Talita Cavalcante//Matéria alterada às 9h04 de quinta-feira (15) para corrigir informação de que os militares não foram convocados pela Polícia Federal.
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