Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Três testemunhas de defesa foram ouvidas na tarde de hoje (30) durante a segunda etapa do julgamento do Massacre do Carandiru. Uma delas, uma testemunha protegida, foi ouvida por quase uma hora, a portas fechadas, sem presença de público, réus e imprensa.
A defesa argumenta que houve necessidade da ação policial no presídio por causa de uma rebelião de presos e que as mortes dos detentos no episódio decorreram de confronto. Amanhã (31), os julgamentos prosseguem com o interrogatório dos policiais. A expectativa é que cinco ou seis deles sejam ouvidos.
Depois do depoimento da testemunha protegida, dois vídeos foram exibidos. O primeiro deles, com o desembargador Ivo de Almeida, que na época em que ocorreu o massacre era corregedor dos presídios da capital paulista. O vídeo apresentou um depoimento dado por Almeida na primeira etapa do julgamento do Massacre do Carandiru, ocorrida em abril deste ano.
Em seu depoimento, Almeida falou que houve necessidade da invasão policial ao Pavilhão 9, pois as tentativas de negociação com os detentos não deram certo. "Quando chegamos, houve tentativas de negociação. Mas não conseguimos sucesso. Daí, a necessidade da invasão", diz. Almeida não soube dizer se houve excesso na ação policial naquele dia, quando 111 detentos foram mortos. "Se houve excesso, não posso afirmar. Mas o nosso objetivo não era esse, pois não havia precedentes".
O segundo vídeo exibido foi com o também desembargador Luís Augusto San Juan França. Em abril, na primeira etapa de julgamento do Massacre do Carandiru, San Juan França, que era titular da Vara de Execuções Criminais na época, disse que entrou no presídio após a invasão policial. Ele contou ter visto os corpos de “oito ou nove presos” sendo retirados do local. “Perguntei o que houve [aos policiais]. E eles responderam: 'Confronto. Em vez de se renderem, preferiram o confronto'”, disse o desembargador.
San Juan França disse também que uma sindicância apurou que houve policiais feridos durante o massacre e que foram apreendidas armas com os presos, entre elas 12 ou 13 armas de fogo, que lhe foram entregues por policiais. “Não entendo como arma de fogo entra no presídio”, disse sobre as apreensões.
Hoje pela manhã três outras testemunhas arroladas pela defesa foram ouvidas: uma testemunha protegida, que também teve sua identidade mantida em sigilo, o ex-governador de São Paulo Luiz Antonio Fleury Filho e o ex-secretário de Segurança Pública Pedro Franco de Campos.
As testemunhas de defesa foram arroladas pela advogada Ieda Ribeiro de Souza, que defende os 25 policiais militares que são acusados pela morte de 73 detentos que viviam no terceiro pavimento (ou segundo andar) do Pavilhão 9 da Casa de Detenção, no Carandiru. Até ontem (29) falava-se em 26 réus, mas o Tribunal de Justiça confirmou hoje (30) que um dos policiais já morreu e que, portanto, nesta etapa do julgamento são 25 os policiais militares acusados.
Por envolver um grande número de réus e de vítimas, o julgamento do Massacre do Carandiru foi desmembrado em quatro etapas, de acordo com o que ocorreu em cada um dos quatro andares do Pavilhão 9 da Casa de Detenção. Na primeira etapa, em abril, 23 policiais militares foram condenados pela morte de 13 detentos, ocorrida no segundo pavimento.
O caso do Massacre do Carandiru ficou conhecido como o maior massacre do sistema penitenciário brasileiro. No dia 2 de outubro de 1992, os policiais acusados entraram no Pavilhão 9 da Casa de Detenção para reprimir uma rebelião. A ação resultou em 111 detentos mortos e 87 feridos.
Edição: Fábio Massalli
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