Carolina Sarres
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Medicina é o curso superior que oferece mais vantagens profissionais, atualmente, segundo o estudo Radar: Perspectivas Profissionais - Níveis Técnico e Superior, divulgado hoje (3), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). De acordo com o instituto, baseado em informações de 2009 a 2012 do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), uma avaliação que considera salário, jornada de trabalho, facilidade de se conseguir um emprego e cobertura previdenciária faz que a carreira médica tenha as condições consideradas as mais interessantes a um futuro profissional. Atualmente, o curso é um dos mais cobiçados nos vestibulares, momento em que os jovens têm de decidir suas profissões.
“A carreira de medicina foi a vencedora disparada, com um índice 30% maior do que a segunda colocada, odontologia. Medicina já era a líder do ranking na década passada”, informou o estudo, coordenado pelo presidente do Ipea e atual ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, Marcelo Neri.
O salário médio dos médicos ao longo da carreira, segundo o Ipea, é o mais alto: R$ 8,4 mil; seguido pelo dos empregados no setor militar e de segurança, R$ 7,6 mil; e dos profissionais em serviços de transporte (engenheiros de trânsito, especialistas em logística, pilotos de aviação, administradores de portos e aeroportos, por exemplo), R$ 6 mil.
Não só a remuneração, no entanto, coloca a medicina em primeiro lugar no ranking de profissões do instituto. A facilidade de encontrar um emprego, expresso pela taxa de ocupação de 97% dos médicos formados, também a maior entre as carreiras e a cobertura previdenciária, de 93,3%, são fatores determinantes.
Em relação à jornada de trabalho, os médicos não estão entre os cinco que trabalham mais horas por semana. Os profissionais que passam mais horas semanais dedicadas ao emprego, são os engenheiros mecânicos e especialistas em metalurgia, 42,8h, o que corresponde a mais de oito horas por dia, jornada normal estabelecida pela legislação trabalhista brasileira. Outras carreiras que também têm jornadas mais extensas que o normal são as nos setores farmacêutico - 42,6h - e de engenharia, produção e processamento, 42,5h.
Os médicos e os estudantes de medicina, no entanto, dizem que a situação da carreira não é bem essa que pinta o estudo do Ipea – o que tem sido, inclusive, questão de protestos nas últimas semanas. Eles reclamam das condições de trabalho, dos salários baixos, especialmente nos primeiros anos de profissão, e das jornadas de trabalho excessivas.
“Infelizmente, na prática, não funciona assim. As cargas horárias são muito pesadas. Não é raro um médico recém-formado ter de trabalhar 60 horas semanais para ganhar mais ou menos R$ 2 mil. É um pouco frustrante estudar muito durante seis anos para ganhar isso”, explicou a formanda em medicina, Simone de Almeida.
Além da extensa jornada de trabalho, segundo ela, muitos colegas ainda têm de manter um segundo emprego, geralmente em forma de plantões, para complementar o salário, especialmente os que fazem a residência fora da cidade de origem e em hospitais públicos, em que recebem uma bolsa de estudos em média no valor de R$ 2,6 mil, incluindo auxílio-moradia.
O lado positivo, em contraponto, é a certeza de que haverá emprego garantido, devido à demanda por mão de obra médica. Antes mesmo de se formar, a futura doutora já recebeu propostas de emprego. “O problema, de fato, não é conseguir um emprego, mas ter as condições para trabalhar. Há lugares inseguros, em que a questão não é a infraestrutura ou a falta de material, mas a falta de segurança. No hospital onde trabalho, tem gente que entra com chute querendo bater no médico porque a fila está enorme. Isso não é culpa do médico, é da gestão na Saúde. As condições de trabalho muitas vezes não compensam”, disse Simone Almeida.
Em contraponto à medicina, primeira colocada no ranking do Ipea, as profissões de nível superior ligadas a religião, ética e filosofia e educação física e esportes são as que oferecem as piores condições no mercado de trabalho, segundo os critérios avaliados. Por um lado, essas três carreiras têm baixa jornada de trabalho, entre 37h e 39h semanais, o que é um ponto positivo. Por outro, oferecem, em média, baixos salários que variam de R$ 2,1 mil a R$ 2,7 mil, além de baixa cobertura previdenciária e taxa de ocupação média de 89% dos profissionais formados têm emprego).
Edição: Marcos Chagas
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