Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A situação do Egito com a deposição do presidente Mouhamed Mursi é preocupante e é preciso esperar os próximos três dias para ver como se comportarão as diversas forças que atuam no país. A avaliação é do professor de relações internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da Sociedade Brasileira de Direito Internacional, Antônio Celso Alves Pereira.
“Acredito que neste momento é preciso esperar o que vai acontecer nas próximas 72 horas. Definir, não vai definir nada, mas pelo menos haverá uma visão mais clara do que está acontecendo, porque o povo está na praça e não vai arredar dali até que sejam atendidas as reivindicações. A situação econômica realmente é muito grave. Desde 1952 os militares estavam no poder, saíram quando o Mursi entrou e agora voltam ao poder. Vamos ver o que vão fazer”, disse.
O professor explicou que em um movimento desta amplitude, em que o povo está nas ruas, com a tomada do poder pelas Forças Armadas, e as complicações de ordem religiosa, além da situação do Oriente Médio, não é possível prever os rumos que o país vai tomar.
Para Antônio Celso, Mursi não conseguiu dar as respostas aos apelos da massa que, segundo ele, nunca saiu da praça. “O presidente herdou uma situação econômica gravíssima, com 45% da população na miséria, e foi apoiado por esta parcela da população. A Irmandade Muçulmana [organização à qual o presidente pertence] tem apoio dessa parte da população, que vive em extrema pobreza. Ele não foi capaz de montar um sistema de recuperação do Egito, que pudesse lhe dar condições de fazer um governo de transição mais pacífica e tirar o país das dificuldades em que se encontra”, avaliou, apesar de reconhecer que Mursi esteve pouco tempo no poder.
Na avaliação do especialista, o momento é grave diante da falta de definição se o governo pode descambar para um sistema que não interessa à estabilidade do Oriente Médio e nem ao Ocidente.“Um governo que pode ser de um grupo radical que assuma o poder e complicar muito mais ainda a situação”, disse.
O professor explicou que os Estados Unidos apoiaram os movimentos democráticos em todos os países onde ocorreu a Primavera Árabe. Além disso, depois da eleição de Mursi, apoiaram o presidente e esperaram a democratização do país. “Se emergir das eleições um governo que não seja radical, que não vá, com bandeiras, hostilizar os Estados Unidos e mostrar um mínimo de condições de manter um equilíbrio e trazer certa tranquilidade para o país, acredito que os Estados Unidos apoiarão o regime, desde que seja exatamente um governo que não hostilize e não vá ampliar mais ainda a instabilidade do Oriente Médio”, declarou.
O professor não acredita em uma interferência dos países da região para tentar buscar um consenso, mas alertou para a atuação da Al Qaeda. “Há um elemento muito perigoso que é a Al Qaeda. Hoje ela está enfraquecida, mas quem substituiu o Bin Laden, como o novo líder, foi um egípcio. Ela pode se fortalecer dentro de uma situação de caos lá dentro e pode ser um fator altamente desestabilizador para o Egito”, analisou.
Edição: Aécio Amado
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