Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Por um lado o estádio Castelão, que vai abrigar os jogos da Copa das Confederações, em Fortaleza (CE), foi a primeira arena a ficar pronta entre todas as cidades-sede; por outro, ao sair do estádio, os possíveis problemas relativos à mobilidade tornam-se visíveis. A avaliação é do arquiteto e urbanista Renato Pequeno, professor do Departamento de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC). "O entorno do Castelão não está pronto. Quando se pensa em como chegar ao estádio, aí se tem um problema", disse em entrevista à Agência Brasil.
De acordo com a Secretaria Municipal Extraordinária da Copa (Secopafor), as obras de mobilidade nas imediações do Castelão - previstas para a Copa das Confederações - serão entregues no dia 15 de junho, quatro dias antes do primeiro jogo em Fortaleza, que ocorre no dia 19. O órgão destacou que o compromisso firmado com a Federação Internacional de Futebol (Fifa) para estes jogos é a conclusão do alargamento da Avenida Alberto Craveiro e construção de uma rotatória ao lado do estádio. A Secopafor informou que 80% dessa obra estão concluídos.
As demais obras de mobilidade, sob a responsabilidade da Secopafor, serão concluídas somente para a Copa do Mundo. O acordo com a Fifa inclui a construção de um túnel por baixo da rotatória que ligará a Avenida Paulino Rocha (obra 43% concluída) à Via Expressa (5% concluída). Esta via interliga a região do estádio à zona hoteleira da capital. As obras na Avenida Dedé Brasil, também nos arredores do Castelão, estão com 9% em andamento.
Para a secretaria, os transtornos no trânsito em dois dos 25 eventos ocorridos no estádio desde dezembro, quando reinaugurado, estavam relacionados às obras da Avenida Alberto Craveiro ainda em andamento. O órgão espera que, com a conclusão da obra antes dos jogos, essas dificuldades com grandes engarrafamentos na área, sejam superadas. Os transtornos ocorreram principalmente em um show internacional e em uma partida de futebol que contaram com um público de mais de 50 mil pessoas. A capacidade do Castelão, após a reforma, é 63.093 mil lugares.
Além das obras viárias a serem executadas pelo município, o governo estadual tem o compromisso de construir mais duas estações da linha de metrô da capital e o veículo leve sobre trilhos (VLT) Parangaba-Mucuripe, que vai ligar a zona hoteleira à área do estádio. A previsão de entrega dessas obras, no entanto, é primeiro trimestre de 2014, antes dos jogos da Copa do Mundo.
Para Renato Pequeno, mesmo que sejam concluídas no tempo previsto para os jogos, essas obras de mobilidade não correspondem às principais dificuldades de mobilidade urbana que a cidade enfrenta. Ele destacou que Fortaleza teve sua frota de veículos mais que duplicada na última década, passando de 422,5 mil em 2003 para 854,3 mil em março deste ano. "Paralelamente, não houve expansão do sistema viário. Independentemente da Copa do Mundo, a cidade já trazia todos esses problemas", avaliou.
O professor acredita que, com o anúncio, em 2007, de que os jogos da Copa das Confederações iriam ocorrer no Brasil, houve uma concentração de esforços e investimentos para a reforma do estádio e para a construção e reforma de vias que facilitassem o acesso à arena. "As obras de mobilidade atendem ao destino Castelão e não resolvem os grandes gargalos da cidade", disse. Ele explicou que o estádio está localizado em faixa intermediária, no meio da cidade, e que os principais problemas concentram-se nas regiões oeste e leste do município.
"Temos uma parte a oeste que é bem mais densa e pobre, cheia de favelas e com muitas áreas de ocupação. A leste há uma parte que ainda tem vazios urbanos, uma área que concentra boa parte dos shoppings centers, áreas onde se expandem condomínios fechados. É a região onde se tem um comércio voltado para a população mais abastada e que dá continuidade à área mais verticalizada, na orla marítima, que concentra os hotéis e os bairros da classe média alta", descreveu.
O urbanista disse que a especulação imobiliária é um dos resultados desse processo de investimento concentrado nessa região. "A partir da implantação dessas obras, essas áreas vão ser destinadas a um público de renda média e média alta. Elas ficam sem ocupação no momento, servindo à especulação. A meu ver, essas obras de mobilidade atenderiam ou atenderão, no futuro, ao deslocamento da população que vier a morar naquela direção", avaliou.
O impacto social provocado por essas obras relacionadas à Copa do Mundo também são questionadas pelo professor. "São obras que estão levando a milhares de remoções. Essas famílias estão sendo destinadas a morar em espaços mais periféricos: as obras estão gerando exclusão social e territorial", critica. Segundo o governo do Ceará, cerca de 2.140 famílias terão seus imóveis atingidos total ou parcialmente pela obra do VLT.
Entre as opções de reparação oferecidas às famílias, o governo estadual apontou indenizações, casas do Programa Minha Casa, Minha Vida e unidades em um conjunto habitacional que, de acordo com o órgão, contará com infraestrutura viária, de saúde e de lazer.
Edição: José Romildo
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