Monica Yanakiew
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Assunção – O Paraguai elege hoje (21) um novo presidente e renova a totalidade do Congresso. A votação ocorre dez meses depois da crise institucional desencadeada pela destituição do presidente Fernando Lugo, que levou os governos regionais a suspenderem o país do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
Desde as 8h e até as 18h (horário de Brasília), 3,5 milhões de paraguaios irão às urnas para decidir quem vai governar o país nos próximos cinco anos. Dois dos 11 candidatos lideram as pesquisas de opinião, ambos de partidos tradicionais: Horacio Cartes, do Partido Colorado (que governou o país durante 61 anos), e Efraín Alegre, do Partido Liberal Autentico (no poder desde o impeachment de Lugo).
Os resultados preliminares devem ser divulgados três horas depois do fechamento das urnas e a previsão é que, até o final da noite, o nome do vencedor seja anunciado. No Paraguai não existe segundo turno: ganha quem obtiver a maioria dos votos. Além de presidente, os paraguaios elegerão 17 governadores, 45 senadores e 80 deputados federais. As últimas pesquisas indicavam que os colorados e liberais teriam as maiores bancadas, mas que a esquerda ganharia terreno.
“Fernando Lugo é candidato a senador pela Frente Guasú. Deve ser eleito e provavelmente consiga eleger quatro senadores, formando uma bancada própria – coisa que não tinha quando era presidente”, disse à Agência Brasil o analista politico Francisco Capli, da consultora First Analysis, que faz pesquisas de opinião. Foi o Congresso, de maioria oposicionista, que aprovou o impeachment-relâmpago de Lugo. Em 48 horas o ex-bispo esquerdista foi julgado, condenado e substituído por seu vice, Federico Franco – político conservador do Partido Liberal.
A rapidez e a forma do processo político foram questionadas pelos governos brasileiro, argentino e uruguaio – sócios do Paraguai no Mercosul. Em resposta ao que consideraram ser um “golpe parlamentar” contra Lugo, suspenderam o país do bloco regional até a realização de novas eleições presidenciais. Caberá ao novo presidente, que assumirá em agosto, retomar o diálogo político com o Mercosul (as relações comerciais foram mantidas).
O próprio Franco disse que esperava a normalização das relações antes mesmo da posse de seu sucessor, no dia 15 de agosto. Tanto o liberal Alegre (candidato de Franco) quanto o colorado Cartes (cujo partido foi derrotado por Lugo em 2008) manifestaram-se a favor do Mercosul. Mas o novo presidente, seja ele quem for, precisa do apoio do Congresso para superar outro imbroglio.
Tão logo suspenderam o Paraguai do Mercosul, Brasil, Argentina e Uruguai incorporaram a Venezuela – cuja adesão tinha sido aprovada por todos os parlamentos, menos o paraguaio. O Congresso do Paraguai não só manteve o veto, como no ano passado declarou Nicolás Maduro “pessoa não grata”. Na época, ele era vice de Hugo Chávez (morto em março). Na sexta-feira (19) ele tomou posse como presidente eleito da Venezuela.
O Paraguai não foi afetado pela suspensão do Mercosul – a economia deve crescer entre 11% e 13%, segundo previsões de economistas independentes e do Banco Central. Inclusive, as exportações do país para o Brasil aumentaram cerca de 30%.
“Mas esse crescimento depende, 40%, do desempenho do setor agropecuário, que é afetado pelo clima”, disse à Agencia Brasil o economista Fernando Masi, do Centro de Analise e Difusão da Economia Paraguaia (Cadep). “Somos o quarto produtor mundial de soja, mas se houver uma seca nosso crescimento despenca. Precisamos de investimentos em infraestrutura e na indústria - atividades que gerem emprego e nos permitem combater a pobreza”.
A falta de emprego é uma das principais queixas dos eleitores. Cerca de 30% da população economicamente ativa estão subempregados e a pobreza ainda atinge 30% do país. A segunda atividade econômica do Paraguai, depois da agropecuária, é o que Masi chama de “reexportacao”.
O Paraguai é uma espécie de zona livre dentro do Mercosul: importa produtos (principalmente da Ásia) a tarifas baixas, para serem vendidos no Brasil. Sacoleiros brasileiros cruzam a fronteira para fazer compras baratas no Paraguai. “Faturamos com esse comércio o mesmo que com as exportações de nossos produtos: US$ 5 bilhões anuais”, disse Masi.
Edição: Tereza Barbosa
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