Monica Yanakiew
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Buenos Aires – O Congresso argentino aprovou hoje (28) acordo com o Irã para investigar o atentado a bomba contra o centro comunitário judaico da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em Buenos Aires, em 1994. O ataque matou 85 pessoas e feriu centenas. A explosão, considerada o pior ato terrorista da história do país, ocorreu dois anos depois do atentado à embaixada israelense, que deixou 29 mortos. A Justiça argentina aponta os iranianos como sendo autores do atentato. O Irã nega envolvimento com o caso. Até hoje, ninguém foi condenado ou preso.
O acordo – que já havia sido aprovado pelo Senado - foi ratificado pela Câmara de Deputados, por 131 votos a favor e 113 contra, depois de quatorze horas de debate. No entanto, a comunidade judaica da Argentina (a maior da América Latina) está dividida. A própria Amia e a Delegação de Associações Israelitas da Argentina (Daia) protestaram em frente ao Congresso contra o acordo, assinado pelos governos argentino e iraniano. Do outro lado, parentes das vítimas defendem a decisão do governo de tentar “destravar” as investigações.
Em 2006, a Justiça argentina acusou o governo iraniano de ter planejado o atentado, que teria sido executado pelo grupo xiita libanês Hezbollah, com ajuda do Irã. A pedido da Argentina, a Interpol determinou ordem de captura de cinco cidadãos iranianos e um libanês. Na lista dos acusados, estão iranianos que ocupavam altos postos no governo do então presidente Akbar Hashemi Rafsanjani – entre eles, o atual ministro da Defesa, Ahmad Vahidi.
Os iranianos sempre negaram a participação no atentado – o que levou a Argentina a condenar o Irã publicamente na Organização dsa Nações Unidas (ONU). Desde 2003, o governo, inclusive a atual presidenta Cristina Kirchner, menciona o caso da Amia nos discursos perante a Assembleia Geral das Nações Unidas. As relações políticas entre os países pioraram após o pedido de captura, emitido pela Interpol. No ano passado, o governo iraniano propôs negociar um acordo para avançar nas negociações.
O memorando de entendimento prevê a criação de uma Comissão da Verdade (formada por juristas internacionais de renome) para ajudar nas investigações e permitirá a Justiça argentina ouvir, em Teerã, o depoimento dos acusados que tiveram a prisão decretada pela Interpol. Para entrar em vigor, o acordo ainda precisa ser aprovado pelo Parlamento do Irã. E mesmo assim, os acusados podem se negar a comparecer perante o juiz.
Edição: Carolina Pimentel
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