Daniel Lima e Kelly Oliveira
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – Além de corroer o poder de compra da população, a inflação traz preocupações para quem guarda dinheiro na mais segura das aplicações financeiras. Influenciada pelos juros baixos e pela nova regra adotada no ano passado, a caderneta de poupança rende cada vez menos e não acompanha a evolução dos preços.
Dados divulgados na última quinta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 0,86% em janeiro deste ano. Foi a maior variação mensal desde abril de 2005, quando a alta tinha somado 0,87%, e o maior percentual para o mês desde 2003.
A preocupação para quem fez depósitos em caderneta de poupança a partir de 4 maio de 2012 é que uma nova regra passou a valer para as cadernetas de poupança. A remuneração só será a Taxa Referencial (TR) mais 6% ao ano quando a taxa básica de juros (Selic) for superior a 8,5% ao ano. Caso fique abaixo, a remuneração passa a ser 70% da Selic mais a TR. Como a Selic está em 7,25% ao ano, neste momento vale a nova regra.
Mesmo antes do IBGE divulgar a inflação de janeiro, analistas de mercado, como o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, já consideravam que as novas aplicações em poupança devem render menos que a inflação neste ano. “As aplicações tradicionais estão perdendo para a inflação. A inflação está corroendo parte da renda do brasileiro. Agora, se continuar, pode haver pressão por reajustes maiores de salário."
De acordo com o Boletim Focus, pesquisa com analistas de mercado divulgada toda semana pelo Banco Central, as instituições financeiras estimam que a taxa Selic encerrará o ano em 7,25%, o que faria a poupança render 5,08% em 2013. Se for levada em consideração a expectativa de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) ficará em 5,5% neste ano, a poupança renderá 0,40% a menos que a inflação oficial.
Na avaliação de Oliveira, o Banco Central deve manter a Selic no atual patamar porque quer estimular o crescimento da economia. “O crescimento baixo faz com que o Banco Central mantenha a Selic, mesmo com a pressão sobre os preços”, analisa.
Para Oliveira, a inflação deve ser menor no segundo semestre deste ano. “Este mês ainda tem o impacto do reajuste dos combustíveis. No segundo semestre, o governo não espera que as pressões se repitam. Não haverá aumento do preço dos combustíveis e também há expectativa de uma safra maior, o que reduz os preços dos alimentos”, disse.
O governo já sinalizou preocupação com a inflação se aproximando do teto da meta. Houve a redução do preços da energia e o pedido para que as prefeituras não aumentem o preço dos transportes.
Oliveira também destacou que o governo mudou, recentemente, de estratégia em relação ao dólar. Na avaliação dele, a estratégia do governo anteriormente era desvalorizar o real para que os produtos brasileiros tivessem mais competitividade lá fora. Agora, com a inflação em alta, é mais vantajoso ter o dólar um pouco mais baixo, porque reduz o custo da importação de insumos e matérias- primas, com reflexos nos preços no país.
Edição: Andréa Quintiere
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