Leandra Felipe
Correspondente da EBC
Bogotá - O projeto do Estatuto Nacional de Drogas da Colômbia, em estudo pelo governo, terá ênfase na prevenção do consumo e no tratamento de dependentes químicos. Para isso, a proposta inclui a destinação obrigatória de verbas municipais.
O projeto quer também estabelecer a criação de centros de atendimento para dependentes nos municípios e também nas universidades, que poderão ter centros de assistência para estudantes e funcionários usuários. Empresas com mais de 25 empregados também teriam que oferecer serviços de prevenção ao consumo.
Depois de apreciado e votado, o projeto irá substituir o Estatuto de Estupefacientes, em vigor há quase 30 anos.
Outra medida prevista é que os meios de comunicação públicos e privados também deverão difundir, gratuitamente, comerciais preventivos sobre o consumo de drogas psicoativas. As campanhas publicitárias serão coordenadas pelo Ministério da Saúde.
Com relação à despenalização do usuário, a proposta prevê a manutenção da regra atual, que já permite o porte de dose mínima para maconha (5g) e cocaína e derivados (1g), por usuário.
A polêmica está na proposta de despenalizar a dose pessoal também para drogas sintéticas derivadas de anfetaminas (tais como o ecstasy). A ideia é permitir o porte de três comprimidos por pessoa.
Apesar de liberar o porte para usuários, o projeto não autoriza a comercialização e também proíbe o consumo em lugares públicos, mantendo a lei em vigor.
Assim, um usuário não seria preso ao ser flagrado com o porte da dose mínima, mas teria de responder a processo caso fosse encontrado consumindo a droga em locais públicos.
Para analistas, o projeto de lei é “realista”. O toxicologista da Universidade Nacional da Colômbia Jairo Afonso Téllez acredita que o fato de a proposta estar discussão é positivo. “Estamos tentando enfrentar a realidade do consumo.”
Mas ele defende que o tema seja mais bem estudado antes de virar projeto de lei, especialmente no tema das doses pessoais, porque cada derivado e componente das drogas tem um grau de pureza diferente. “O bazuco (similar ao crack), por exemplo, não tem o mesmo grau de pureza que o cloridrato da cocaína, que é o mais puro. Por isso, não se pode padronizar tudo”, acredita.
Apesar de ainda estar em análise, a proposta é considerada coerente também para especialistas que atuam fora da Colômbia. No Brasil, Pedro Abramovay, ex-secretário Nacional de Justiça, elogia a proposta em discussão.
“A Colômbia, corajosamente, coloca em discussão o fato de que pôr o usuário na cadeia não resolve o problema da dependência”, avalia.
Ele lembra que, diversas vezes, o atual presidente colombiano, Juan Manuel Santos, defendeu a necessidade de discutir o tema uma vez que o combate ao tráfico não está resolvendo o problema.
Segundo Abramovay, o mais importante é que o assunto seja debatido localmente, entre o governo e a sociedade. “Há vários caminhos e possibilidades para propor mudanças e cada país deve se ajustar à sua realidade. O Uruguai quer regularizar a produção e a venda, e a Colômbia quer dar o passo de não criminalizar o usuário”, acrescenta.
Edição: Lílian Beraldo
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