Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A Câmara dos Vereadores do Rio decidiu adiar para a próxima semana a votação do tombamento do prédio do antigo Museu do Índio, ameaçado de demolição por causa das obras de reforma do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã. As galerias do plenário ficaram lotadas desde o início da tarde de ontem (20), com manifestantes a favor da preservação do imóvel, onde começou o Serviço de Proteção ao Índio, comandado pelo marechal Candido Rondon.
Apesar da pressão popular, a matéria só foi colocada em votação depois das 22h, quando já não havia o quórum mínimo necessário para a aprovação, de 26 parlamentares. Mesmo assim, os vereadores presentes votaram o projeto de tombamento, que registrou 18 votos a favor e nenhum contra, pois a bancada do governo já havia se retirado.
O cacique Carlos Tukano, que lidera a ocupação do prédio pelos índios, que fundaram a Aldeia Maracanã, fez questão de acompanhar a sessão e disse que haverá resistência à tentativa de retirá-los do imóvel. “Não vamos arredar o pé. Estamos recebendo gente de outros estados para resistir. Queremos que o Brasil mostre ao mundo que respeita os índios, os primeiros habitantes desta terra. Se algo acontecer, será muito ruim para a imagem do país lá fora”, declarou.
O vereador Reimont (PT), um dos autores da proposta de tombamento do Museu do Índio, juntamente com Eliomar Coelho (PSOL) e Leonel Brizola Neto (PDT), lamentou a postura da Câmara. “Nós perdemos a oportunidade de dizer ao mundo que a cultura indígena pode ser preservada sem prejudicar o sucesso da Copa e das Olimpíadas. Ao não oferecer quórum, a Câmara não cumpriu o seu papel”, criticou.
O presidente da Câmara, Jorge Felippe (PMDB), disse que a matéria poderá entrar em pauta na próxima quarta-feira (26). Outro projeto de tombamento, o da Escola Municipal Friedenreich, que funciona ao lado do Maracanã e também está ameaçada de demolição, não pôde ser votado porque foi apresentada emenda à matéria, forçando um novo trâmite entre as comissões da Casa, o que só deverá estar concluído no próximo ano.
Os vereadores aprovaram o orçamento para 2013 e também o projeto que institui o campo de golfe olímpico, na Barra da Tijuca, em um processo que inclui aumento de gabarito para construção de edifícios, e a redução de 58 mil metros quadrados de uma área de proteção ambiental (APA). Duas emendas apresentadas de última hora foram aprovadas, garantindo a isenção total de impostos municipais do futuro campo de golfe.
Após o encerramento da última sessão, que terminou por volta das 22h30, os manifestantes deixaram o prédio da Câmara protestando e acabaram entrando em conflito com o vereador Luis Carlos Ramos (PSDC), da base do governo, que estava em um bar próximo. O parlamentar permaneceu no banheiro do estabelecimento e só saiu escoltado pela Polícia Militar, chamada para controlar o tumulto. Mesmo assim, o vereador foi hostilizado pelos manifestantes.
Edição: Graça Adjuto