Violência contra a mulher no Brasil e em países da África é tema de debate no Rio

21/11/2012 - 18h21

Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Um paralelo entre as estratégias de enfrentamento da violência contra a mulher no Brasil e em dois países africanos de língua portuguesa está sendo apresentado hoje (21), em um debate aberto ao público no espaço cultural do Consulado-Geral de Angola, no centro do Rio. O evento Tradições e Sussurros: A Violência contra a Mulher – Desafios e Conquistas é promovido pela Africa Consulting, organização voltada para o desenvolvimento humano e as relações internacionais com o Continente Africano.

Na opinião da professora Rita de Cássia Barros, diretora da Africa Consulting e coordenadora do debate, as diferenças entre o Brasil e a África no enfrentamento da questão são visíveis. “A primeira diferença que salta aos olhos é que no Brasil já contamos com um instrumento legal como a Lei Maria da Penha, e com delegacias especializadas no atendimento à mulher vítima da violência doméstica. Não encontraremos nenhuma agência específica voltada para isso em Angola e na Guiné-Bissau”, disse.

Para Rita de Cássia, a lei brasileira é vista com expectativa pelas instituições que combatem a violência contra a mulher na África. “Esta é uma esperança de muitas pessoas com quem dialogamos no Continente Africano, porque a legislação é de fato um grande avanço”, ressaltou.

Nos países africanos, a violência contra a mulher ainda é muito influenciada pela tradição cultural, apesar de existirem leis coibindo, por exemplo, a circuncisão feminina. “Na Guiné-Bissau houve um avanço agora, com a recente proibição por lei da mutilação genital, mas é uma legislação que luta contra algo muito forte, que é a tradição. Basta dizer que meninas de seis meses de idade a 15 anos são vítimas dessa prática, que é entendida como tradicional”, disse a professora.

Segundo a coordenadora do evento, leis como a adotada na Guiné-Bissau sinalizam para uma nova atitude no continente, no que diz respeito à violência contra a mulher. “Eu acredito que as sociedades africanas caminhem na direção de uma mudança desse quadro, mas cada uma tem o seu passo”, declarou.

De acordo com a diretora do Africa Consulting, os próprios números referentes à mutilação genital não são confiáveis. “Pouco se fala claramente em números, porque ainda não existe nesses países um movimento tão forte de mulheres contra a violência dessa tradição . Algumas personagens que conseguem uma projeção internacional têm denunciado a circuncisão feminina, que ainda é muito comum no Sudão, no interior de vários países da África Central, além da própria Guiné-Bissau”.

Participam dos debates a diplomata angolana Fátima Moniz, o médico Joaquim Moreira, também de Angola, a enfermeira Aissatú Baldé, da Guiné-Bissau, e a assistente social brasileira Elizabeth Dias Cayres.

 

Edição: Aécio Amado