Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A professora de obstetrícia da Universidade de São Paulo (USP) Ruth Osava critica a postura da prefeitura paulista de dar pouca visibilidade ao trabalho desenvolvido na Casa de Parto de Sapopemba, na zona leste da capital. “Tem uma ala que é completamente contra e há muitos esforços para fechar a unidade”, destaca. Fundadora da casa de parto e diretora entre 1998 e 2005, ela avalia que, como não há justificativa técnica para o fechamento do local, a prefeitura prefere não divulgar o serviço sob o argumento de que o número de partos é reduzido. “É uma tentativa de fechar de modo mais sutil. Uma das alegações é que a casa seria economicamente inviável, mas uma coisa leva a outra: tem pouco parto porque não é divulgada.”
Durante quatro dias, a reportagem da Agência Brasil fez contatos com a assessoria de imprensa da Secretaria da Saúde da Prefeitura Municipal de São Paulo, responsável pela Casa de Parto de Sapopemba, a primeira do país, criada em 1998. No entanto, não conseguiu autorização para visitar o local, assim como não obteve as informações sobre o funcionamento da estrutura e o número de partos feitos por mês. A reportagem também informou à secretaria as críticas quanto à não divulgação do serviço, mas o órgão não quis se pronunciar.
A falta de difusão de informações sobre o serviço por parte do governo municipal é criticada por mães e organizações que defendem o parto humanizado. “[A Casa de Parto de Sapopempa] é um serviço muito boicotado. O telefone de lá muda sempre. Se qualquer hospital quiser fazer a divulgação dos seus serviços, isso é super bem visto, mas na casa de parto, não”, critica Camila Inês Rossi, 27 anos, que teve a filha Anisha Raiz, hoje com 1 ano e 4 meses, no local e elogia o trabalho desenvolvido.
Ela destaca que a divulgação do serviço é feita pelas próprias mulheres atendidas na casa de parto. “Fiquei sabendo por uma amiga que teve filho lá. Ela, inclusive, fez um blog para divulgar a casa e muitas mulheres ficam sabendo assim.”
A obstetriz Ana Cristina Duarte, coordenadora do Grupo de Apoio à Maternidade Ativa (Gama), relata que a própria rede básica de saúde da região não indica a casa de parto como opção para as mulheres. “Os médicos dos postos de saúde, onde as mulheres fazem o pré-natal, dizem onde elas podem ganhar o bebê, mas não falam das casas de parto.”
Os entraves para se obter informações sobre a casa de parto interferem também na produção acadêmica, critica a professora Ruth Osava. “A última pesquisa feita lá é de 2009, a partir daí foi dificultada qualquer investigação lá dentro. Pedimos informações e a prefeitura negou. Esses dados simplesmente não são mais acessíveis”, relatou destacando que considera a medida inaceitável por se tratar de um “patrimônio público”.
Para a coordenadora do Gama, um dos motivos que levam a prefeitura a evitar a divulgação do serviço é a posição contrária do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) ao funcionamento das casas de parto. Uma resolução do conselho proíbe o trabalho dos médicos nessas unidades. Ana Cristina Duarte aponta que, com a falta de divulgação, a demanda é pequena. “Daria para fazer pelo menos o dobro dos atendimentos que são feitos hoje”, estima.
Na avaliação da especialista, a prefeitura ainda não fechou a Casa de Parto de Sapopemba temendo repercussões negativas e protestos por parte da sociedade civil. “A população vai se levantar contra. Vai aparecer como algo ruim para o governo. Ninguém mexe, porque senão pega mal, mas também ninguém ajuda, e finge que a casa de parto não existe. Desse jeito, vão colocando um serviço de excelência no ostracismo”, critica.
Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo
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