Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Estudo publicado na edição deste mês do jornal científico internacional Plus One mostra que o Brasil evoluiu muito em termos de produção científica na área da tuberculose, mas não houve a contrapartida necessária em termos de inovação.
O Brasil saiu de 1% de participação em artigos científicos sobre tuberculose no mundo, em 1995, atingindo 5% de participação em 2010. Essa evolução, porém, não foi acompanhada pelo número de pedidos de patentes depositados por pesquisadores nacionais no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), órgão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), disse hoje (4) à Agência Brasil o pesquisador do instituto, Alexandre Guimarães Vasconcellos. Ele assina o estudo junto com Carlos Medicis Morel, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Foram depositados 18 pedidos de patentes relacionadas à tuberculose no período.
“Da mesma forma que o esforço de publicações de artigos está concentrada nas universidades do Sudeste do país, são esses mesmos atores institucionais que depositam as patentes. Então, a participação da indústria ainda é muito pequena: menos de 20% dos depósitos de patentes têm envolvimento da indústria”, disse Vasconcellos. Isso gera uma preocupação, segundo o pesquisador do INPI, porque “não é adequado esperar que a universidade, sozinha, vá conseguir levar novos produtos para o mercado”.
O trabalho efetuado pelos pesquisadores do INPI e da Fiocruz identificou a existência de um gargalo no sistema, que é a baixa participação da indústria nesse processo. Entre os caminhos sugeridos para pensar políticas públicas que solucionem o problema destaca-se o apoio a projetos estruturantes, que permitam ao país inovar na área da saúde, como os que vêm sendo feitos pelo Programa Brasil Maior, do governo federal, e pelo próprio Ministério da Saúde.
Um desses projetos é o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia e Saúde (CDTS), que vem sendo construído na Fiocruz, com foco em inovação. O trabalho indica a necessidade de articular as competências nacionais existentes e promover a integração entre indústria e universidade. “A intensa produção científica que a gente está desenvolvendo ainda não está se transformando em novos produtos protegidos por patentes”, disse.
Dos 18 depósitos de patentes de nacionais efetuados no Inpi, oito foram indeferidos ou arquivados. Os dez restantes estão andamento. “A gente tem mais de 800 artigos publicados no período e não tem nenhuma patente concedida nesse setor”. Dos cerca de 28 mil estudos publicados no mundo, 860 são de autores brasileiros. Para Vasconcellos, é preciso que a produção científica se transforme em inovação. Ele considera isso fundamental, no caso da tuberculose, para atacar um sério problema de saúde pública brasileiro.
Vasconcelos explicou que para ter parceria entre universidades e empresas há necessidade de uma ampla participação dessas duas instituições. “O que a gente mostra é que a participação da indústria no nosso país, em termos de depósitos nessa área, é inferior a 20%. E a universidade, sozinha, não tem estrutura de fábrica”, disse. Para ele, a universidade não vai conseguir levar novos produtos para o mercado, pois precisa da empresa e de projetos como o do CDTS.
“É preciso criar essa infraestrutura no país para que essa intensa produção de conhecimento gerada possa desaguar em inovações úteis e fundamentais para enfrentar os desafios da saúde pública no país”, defendeu o pesquisador do Inpi.
Edição: Fábio Massalli