Quarta noite de mostra do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro tem público recorde mesmo com chuva

22/09/2012 - 11h22

Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A chuva que suavizou o clima na capital do país na noite de ontem (21), depois de quase três meses de seca, não intimidou o público do 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Surpreendendo as expectativas em função do mau tempo, a quarta sessão de exibições das mostras competitivas reuniu a maior plateia de todos os dias do evento.

Os dois grandes momentos da noite estiveram nas mãos de dois diretores pernambucanos. Com o longa-metragem Doméstica, Gabriel Mascaro apresentou universos diferentes das relações entre empregados e patrões.

“Meu desafio foi imaginar que as empregadas participam dos lares brasileiros, no cotidiano das famílias. E propus uma troca deste olhar, onde o jovem vai passar a olhar para o universo desta empregada. É uma inversão do olhar que se transforma em cinema”, descreveu Mascaro minutos depois da exibição.

O documentário foi construído a partir de filmagens feitas por filhos de donas de casa, em várias cidades do país e em condições bem diversas. O trabalho durou um ano entre a seleção de famílias e a edição do material recolhido, momento que o diretor descreve como complexo. “É um ensaio sobre afeto e trabalho”, define.

Esta é a primeira vez que Mascaro participa do Festival de Brasília. Admitindo a ansiedade nos minutos que antecederam a apresentação do documentário, o diretor comemorou a reação do público que aplaudiu intensamente a produção. “É um trabalho de muito tempo que você vê funcionando, com as pessoas que se emocionaram. Você pensa: valeu fazer este filme”.

Na tela da Sala Villa-Lobos, do Teatro Nacional, a plateia acompanhou momentos dramáticos como o da doméstica que, ao cuidar por três meses de uma senhora que havia sido operada, perdeu o convívio com o filho, assassinado logo no final desse período.

As relações afetivas e próximas estabelecidas entre patrões e suas empregadas foram destacadas em trechos da trama como a história filmada por Ju, filha da dona de casa Lúcia, e Lena, a empregada doméstica “adotada” pela família.

Os casos retratados no longa ainda mostraram realidades atípicas como a do empregado Sérgio, abandonado por sua família, e da empregada doméstica Flávia que trabalha na casa de outra empregada doméstica, mãe de Bia, adolescente que passa a maior parte do tempo sozinha com Flávia e seu irmão, que tem problemas de saúde.

“Nossa, gostei muito. Acho que a sensibilidade de juntar estes dois universos, em que há relações muito confusas de trabalho e vida pessoal, de pessoas brancas, pretas, ricas e pobres, mas que convivem no espaço da casa. Tem carinho, tem tensão, tem conflito e acho que é um filme sensível”, disse Caio Csermak, antropólogo que foi assistir a mostra da sexta-feira.

Para a psicóloga Flávia Agra, Doméstica proporcionou uma experiência nova e o mergulho no olhar diferente proposto pelo diretor. “Acho que ele me fez mergulhar em um universo que eu só conhecia por um lado e pude experimentar o outro e, para mim, foi muito especial isto”.

No desfecho da noite, o longa-metragem de ficção Era Uma Vez Eu, Verônica, percorreu a crise existencial vivida pela protagonista da trama. “É um filme filosófico, existencialista, uma viagem reflexiva a partir das dúvidas, certezas, emoções, sonhos, medos, perspectivas de perda. São questões universais que a gente, às vezes, nesta vida louca não tem tempo de sentar e refletir. Verônica propõe refletir junto neste diário íntimo”, descreveu o diretor pernambucano Marcelo Gomes.

A trama é conduzida em torno do universo da médica recém-formada, que ilustra seus questionamentos diante das relações com o pai, os primeiros pacientes e entre amigos. “A emoção é grande em voltar ao Festival de Brasília, depois de 15 anos, quando apresentei meu primeiro curta aqui. Eu gosto muito do cinema que mergulha na alma dos personagens. Foi assim nos meus outros filmes e não é diferente neste”, explicou Gomes.

A quarta noite de mostras foi aberta com a exibição do curta-metragem documentário Empurrando o Dia, dos diretores Felipe Chimicatti, Pedro Carvalho e Rafel Bottaro. Ao tratar da monotonia do cotidiano de moradores de pequenos municípios mineiros, a produção aborda questões relacionadas à fé, ao trabalho, à política e às comunicações interpessoais.

A animação Valquíria, do diretor Luiz Henrique Marques ilustrou o conflito familiar entre um pai e seu filho na abertura da segunda fase da noite. Em seguida, o público acompanhou a delicadeza da trama Eu Nunca Deveria Ter Voltado, na qual os diretores cariocas Eduardo Morotó, Marcelo Martins Santiago e Renan Brandão trataram da reflexão sobre o amor e a morte por meio do personagem Dirceu.

Os filmes serão reprisados hoje (22) no cinema do Centro Cultural Banco do Brasil.


Edição: Lana Cristina