Beatriz Arcoverde
Repórter da EBC
Brasília - Barcelona esperou quase 70 anos para realizar suas Olimpíadas em 1992. Os Jogos haviam sido prometidos para 1924, mas o Barão de Coubertin, fundador das Olimpíadas Modernas, acabou optando por Paris para a sede daquele ano.
Mas a espera valeu a pena. A cidade catalã, antes escondida no interior da Espanha, ganhou notoriedade, valorizou-se e ficou marcada pela alegria dos 20 dias de disputas esportivas.
Uma oportunidade que foi muito bem aproveitada, de acordo com Pere Alcober, presidente do Instituto de Esportes de Barcelona.
“Durante os 20 dias dos Jogos Olímpicos tivemos uma oportunidade única, que não se sabe quando poderá se repetir. Essa oportunidade teria que servir para várias coisas. Uma delas é tentar fazer os melhores Jogos Olímpicos”.
Depois dos Jogos, a cidade se tornou reconhecida em todo mundo. Para Alcober, esse sucesso vai além da infraestrutura.
“A transformação da cidade ocorre na infraestrutura, nas moradias, vias, no aeroporto, o que é imprescindível. Isso é o tangível. Mas há outra troca, que é muito importante, que são os benefícios intangíveis, que vem a ser a autoestima da cidade, o reconhecimento de que temos um desafio e que juntos vamos assumir um objetivo e vamos fazer bem, para mostrar ao mundo que somos capazes de avançar, de nos consolidar nesse mundo globalizado”.
Orgulho - O empresário Juan Martinez Palhares considera que as Olimpíadas foram importantes para a população de Barcelona, que passou a ter orgulho da cidade.
“Sem dúvida foram muito importantes para as pessoas que viviam em Barcelona, porque ficou um orgulho de que Barcelona estava presente em todo o mundo e vimos que não era uma coisa política, era uma coisa realmente feita para a cidade”.
Palhares explica que, além de a população aproveitar as melhorias feitas para os Jogos, a cidade passou a receber mais turistas.
“Tudo foi aproveitado: as telecomunicações, muitos hotéis e isso tudo nos permitiu avançar mais, organizar mais eventos, organizar mais férias, a cidade estava preparada para receber mais visitantes, já que a estrutura que havia sido feito era muito grande. Ainda bem que quem pagou foi o Estado e isso permitiu que os beneficiários fossem Barcelona e os barceloneses, que, de outra forma, não poderiam pagar”.
Valorização - A economista Maria Consol diz que a maior transformação foi na infraestrutura.
“Depois dos Jogos Olímpicos, obviamente, a maior transformação que se pode ver, foi a infraestrutura. A cidade onde moraram os atletas, toda essa parte foi criada, com as praias, o novo porto, além de muitas outras coisas. Também tem o anel olímpico, que facilitou o transito”.
O empresário Palhares destaca que os apartamentos da Vila Olímpica foram vendidos a preços altos e a cidade toda sofreu valorização imobiliária.
“Toda a área de Barcelona se valorizou muito. Houve um disparo de preços tremendo, foi mais de 50%, porque a cidade ficou bonita, tendo cada vez menos áreas à disposição. E as pessoas queriam ir viver em Barcelona, porque deixaram a cidade muito linda”.
Criatividade - O representante do Departamento de Marketing da Infraestrutura Olímpica, Joaquim Romero, explica que cerca de 1 milhão de pessoas visitam a área olímpica de Barcelona, inclusive o Museu das Olimpíadas de 1992. De acordo com ele, muita criatividade ajuda a manter o ginásio ocupado, local que pode receber até 18 mil pessoas.
“Aqui já foi feito de tudo, pista de neve, piscina para o mundial de natação, recebeu triatlon, enduro, windsurf e jet ski também, ginástica sobre gelo, corridas de carros. Já tivemos de tudo”.
O Estádio Palácio São Jorge recebe concertos e grandes jogos, mas ainda encontra problemas para sua manutenção. Já o ginásio é utilizado cerca de 200 dias por ano e os lucros são convertidos para manter outras áreas do parque olímpico.
Mas o grande exemplo de Barcelona para o mundo é como 20 anos depois a cidade ainda vive da boa lembrança dos Jogos Olímpicos. A cidade se valoriza e se reconstrói, mas a recordação dos 20 dias de disputa está presente em toda sua população, que valoriza os visitantes, que sempre ficam com vontade de voltar.
*Colaborou Akemi Nitahara
*As entrevistas foram feitas em Barcelona, em abril de 2010
Edição: Fábio Massalli
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