Fernando César Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Curitiba – Entidades sindicais, partidos políticos, organizações não governamentais (ONGs) e outros movimentos sociais protestaram hoje (5) em Curitiba contra a destituição de Fernando Lugo da Presidência do Paraguai, ocorrida no último dia 22 de junho.
Organizado pelo Comitê Paranaense contra o Golpe no Paraguai, o ato ocorreu na Boca Maldita, tradicional ponto de manifestações em Curitiba. Os manifestantes distribuíram uma carta-aberta à população em que defendem a restituição de Lugo à presidência do país vizinho e a não repressão dos movimentos sociais paraguaios por parte do novo governo, liderado por Federico Franco.
Além da panfletagem, a manifestação foi marcada por apresentações musicais e discursos. Após o ato, parte dos manifestantes se dirigiu a pé até a sede do Consulado do Paraguai em Curitiba, distante cerca de 100 metros da Boca Maldita. Lá, protocolaram uma carta com críticas ao processo que culminou com a destituição do ex-presidente. "O processo de impeachment foi aprovado de forma acelerada, sem qualquer legitimidade popular. Isso deixa claro que se trata de um golpe de Estado", diz trecho do documento.
Funcionários da portaria do consulado, localizado dentro de um edifício comercial, permitiram que apenas uma pessoa fizesse o protocolo da carta. Os demais foram orientados a aguardar do lado de fora. A imprensa também não foi autorizada a entrar.
"O golpe sumário contra Lugo representa a possibilidade da volta de regimes totalitários na América do Sul. Traz o fantasma de novos golpes na região", disse o vice-presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Paraná, Marcio Kieller.
Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFPR, Dimas Floriani, que também acompanhou o ato, afirmou à Agência Brasil que a suspensão do Paraguai do Mercosul e a iminente entrada da Venezuela pode criar um novo realinhamento geopolítico no continente. "Países como Colômbia, Chile e Paraguai podem passar a formar uma frente conservadora."
O professor classificou ainda como "frágil" o projeto político de Lugo. "O perfil e a trajetória de Lugo revelam a fragilidade de seu próprio projeto e a debilidade institucional da política no Paraguai", diz Floriani.
Advogados de Fernando Lugo apresentaram nesta quinta-feira (5) um novo recurso de inconstitucionalidade com o objetivo de tentar anular o impeachment. A nova ação foi apresentada ao Tribunal Constitucional da Suprema Corte, o mesmo que, no último dia 25, negou um primeiro recurso da defesa do ex-presidente.
Edição: Fábio Massalli
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