Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A escassez de doadores de tecidos em todo o Brasil tem criado dificuldades para cirurgia de transplante de cartilagem em joelho, uma técnica inédita no país que vem sendo aplicada pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). O procedimento é feito em pacientes jovens, entre 15 e 45 anos, que tenham sofrido grave lesão traumática no joelho. A técnica já é usada há mais de 30 anos nos Estados Unidos e no Canadá mas, no Brasil, por dificuldades com a legislação, o primeiro transplante do tipo só ocorreu este ano, no dia 26 de março.
Desde então, cinco pessoas já foram beneficiados com o transplante. “Os pacientes estão ótimos”, disse o ortopedista Luís Eduardo Tírico, médico do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas (HC), em entrevista à Agência Brasil.
O grande problema para a utilização dessa técnica no país, de acordo com o médico, é encontrar doadores de ossos, cartilagens e tendões. “Em 2011, [no banco de órgãos do Hospital das Clínicas] havia aproximadamente 1,9 mil doadores potenciais. [Deste total], 198 pessoas efetivamente doaram órgãos. Mas apenas 12 desses pacientes doaram osso, cartilagem e tendão. Ou seja, de 2 mil potenciais doadores, conseguimos em torno de 1% [de doadores]”, disse o médico. Segundo ele, isso ocorre, em parte, porque os pacientes não se enquadram no critério de doação, mas a maioria deles não doa esses órgãos por desconhecimento.
A falta de doadores provoca atrasos no transplante, mas a cirurgia, segundo o médico, é um processo rápido: demora em torno de duas horas.“O paciente fica internado por dois dias no hospital. Em média, em três meses [o paciente] pode andar sem muletas e retornar ao trabalho ou às atividades em torno de seis meses ou um ano, dependendo da lesão. Se ele trabalhar sentado, em torno de três meses já poderá estar trabalhando”, explicou. Para voltar a correr e andar de bicicleta, só depois de um ano.
Segundo Tírico, o transplante é a melhor alternativa para o paciente jovem que tem uma grande lesão no joelho. “O caminho deles seria fazer uma prótese e isso é desastroso porque se troca várias vezes de prótese ao longo do tempo e o paciente pode acabar com uma infecção ou até com uma amputação da perna.”
Além disso, acrescentou o médico, o transplante diminui o ônus do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) com o pagamento de auxílios. “Os pacientes são jovens e estão dando ônus ao INSS, recebendo auxílio invalidez ou doença, sem conseguir trabalhar. A ideia desse transplante é que esse paciente volte a trabalhar e a ter uma vida normal.”
Edição: Talita Cavalcante