De Monica Yanakiew
Correspondente da EBC na Argentina
Buenos Aires – Os governos argentino e britânico lançaram nova ofensiva para reclamar a posse das Ilhas Malvinas (Falklands) nesta quinta-feira (14) – trigésimo aniversario do fim da guerra entre os dois países pela posse do arquipélago no Atlântico Sul
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, içou a bandeira das ilhas na residência oficial britânica, em Londres, junto com a bandeira do Reino Unido, para reafirmar que o arquipélago continua sendo território ultramarinho do Reino Unido e lembrar os 255 soldados mortos na guerra contra a Argentina em 1982.
A presidenta argentina, Cristina Kirchner, publicou uma carta em alguns dos principais jornais britânicos dizendo que a presença britânica nas Malvinas representa um “caso colonial anacrônico” e pedindo ao governo de Cameron que acate as resoluções das Nações Unidas e aceite negociar com os argentinos uma solução para a disputa das ilhas.
Além da carta, Cristina Kirchner se encontrou nesta quinta-feira (14) com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, para pedir sua intermediação nas negociações. A presidenta fez também um pronunciamento perante o Comitê de Descolonização das Nações Unidas. Foi a primeira vez que um chefe de estado discursa nesse comitê, criado em 1961 para promover a descolonização de territórios ainda sujeitos a acordos assinados durante o período colonial.
“Queremos dialogar. Não pedimos que [os britânicos] nos deem a razão, que nos digam que as Malvinas são argentinas. Só queremos que se sentem numa mesa para dialogar”, disse a presidenta. “Pode alguém, no mundo contemporâneo, se negar a dialogar?”
Os argentinos argumentam que, com a independência, herdaram as Malvinas da Espanha. Governavam as ilhas, que ficam a 150 quilômetros de suas costas, até serem expulsos pelos britânicos em 1833. Diante da falta de progresso nas negociações na ONU e na esperança de conquistar o apoio dos argentinos ao seu regime, o ex-ditador Leopoldo Gaultier tentou retomar o arquipélago à forca em abril de 1982 e saiu derrotado em uma guerra que durou 134 dias.
A ditadura caiu um ano depois, mas todos os governos democráticos argentinos seguintes reivindicaram as Malvinas. Cristina Kirchner lembrou que os próprios argentinos criticaram a ditadura, que resultou no desaparecimento de trinta mil opositores, e também a guerra. Ela criticou a decisão de Cameron de içar a bandeira das Malvinas numa data trágica para ambos os países: centenas morreram dos dois lados e centenas se suicidaram após o fim do conflito.
“O que pensariam os alemães se, no dia 8 de maio [data do fim da 2ª Guerra Mundial, quando o Exército alemão se rendeu], os britânicos içassem a bandeira alemã, para comemorar a derrota da Alemanha na 2ª Guerra Mundial?”, perguntou Cristina Kirchner. “A Guerra das Malvinas, no entanto, não encerrou a disputa”.
Apesar de várias resoluções das Nações Unidas pedirem aos dois países uma solução negociada para a disputa, o Reino Unido tem se recusado a falar do assunto. Segundo os britânicos, o que vale é o principio de autodeterminação dos povos: cabe aos 3 mil moradores das Malvinas decidir seu futuro.
Na quarta-feira passada (13), os moradores das Malvinas anunciaram um plebiscito para o próximo ano para decidir se a população quer manter a situação atual das ilhas. O arquipélago tem um governo independente; fica com os recursos da pesca, do turismo e do petróleo e não gasta com defesa, que é financiada pelo Reino Unido.
“Nos nunca nos sentimos argentinos. Muitos de nós estamos aqui há cinco ou seis gerações. É verdade que até a guerra de 1982 éramos ignorados pelo Reino Unido e a população das ilhas estava diminuindo”, disse em entrevista a Agencia Brasil o empresário Tim Miller. “Mas depois da guerra o Reino Unido investiu em estradas e infraestrutura. Veio o turismo e a pesca. Hoje temos um Produto Interno Bruto per capita alto. Para que mudar?”
A Argentina argumenta que o principio de autodeterminação dos povos só se aplica a povos nativos - como os indianos, que viviam na Índia antes da colonização britânica. No caso das Malvinas nunca houve uma população nativa, apenas colonos, piratas e pescadores de focas. Agora, com a descoberta de petróleo, o arquipélago tem mais uma fonte de riqueza.
Os moradores das Malvinas também enviaram um representante ao Comitê de Descolonizacão da ONU, Roger Edwards, que acusou a Argentina de empreender uma “guerra econômica” contras as ilhas, ao pedir aos seus parceiros do Mercosul que bloqueiem a entrada em seus portos de navios com bandeira das Malvinas.
Edição: Fábio Massalli / matéria foi ampliada às 19h54