Da BBC Brasil
Brasília – No primeiro discurso televisionado desde o massacre de 108 sírios na cidade de Houla, no final de semana passado, o presidente da Síria, Bashar Al Assad, negou hoje (3) que as forças de seu governo tenham tido participação na matança.
Em pronunciamento ao recém-eleito parlamento do país, Assad disse que seu país está enfrentando um violento ataque regional e internacional, mas destacou que a população rejeita a interferência externa em seu território. “O que aconteceu em Houla e em outros lugares [da Síria] foram massacres brutais que somente monstros seriam capazes de perpetrar”, alegou o presidente.
Assad voltou a atribuir a violência na Síria a terroristas apoiados no exterior, que visariam a “criar um projeto de dissenso” no país. Para o presidente, a única forma de enfrentar as "ameaças de enfraquecimento e de quebra de soberania da Síria" é pelo diálogo político. Mas ele ressaltou que não pretende negociar com quem não representa a vontade do povo sírio.
As 108 pessoas mortas em Houla – na maioria mulheres e crianças – foram atacadas a facadas ou a tiros à queima-roupa em 25 e 26 de maio. Investigadores da ONU dizem que a maioria das vítimas foi executada, e testemunhas acusam milícias aliadas do governo pelos crimes. O governo, no entanto, atribuiu o massacre a "grupos armados" que pretendem forçar uma intervenção externa na Síria.
A tragédia despertou indignação entre a comunidade internacional e foi alvo de condenação por parte do Conselho de Segurança da ONU. Em declaração adotada por unanimidade após uma reunião de emergência, no domingo passado, o conselho disse que os ataques contra a cidade representam “um revoltante uso da força contra civis” e uma violação da lei internacional. Ao mesmo tempo, diversos países expulsaram seus embaixadores sírios.
A reação internacional não conseguiu, porém, evitar a continuidade da violência na Síria. Ontem (2), segundo o grupo baseado na Grã-Bretanha Observatório Sírio para os Direitos Humanos, 89 pessoas morreram em confrontos no país, incluindo 57 membros das Forças Armadas.
A violência atravessou fronteiras e se estendeu ao Líbano. Comunidades libanesas alauítas e sunitas voltaram a se enfrentar neste domingo na cidade de Trípoli. Testemunhas citam duas mortes apenas hoje, elevando para 12 o total de mortes desde o início dos distúrbios, no sábado (2). Os muçulmanos sunitas libaneses simpatizam, em geral, com os sírios que fazem oposição ao regime do país, enquanto os alauítas tendem a apoiar Bashar Al Assad.