Publicidade não deve ser vista como vilã do consumismo infantojuvenil, defende presidente da Abrinq

02/06/2012 - 11h57

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O caminho ideal para evitar o consumismo excessivo em crianças e adolescentes não pode ser a proibição da publicidade infantojuvenil, defende o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista da Costa. De acordo com ele, a relação de crianças e adolescentes com a propaganda deve ser responsabilidade das famílias e, como a decisão pela compra de um produto cabe aos pais, não se pode enxergar a publicidade como uma vilã.

“O Estado já regula muita coisa, e é um absurdo ele também tutelar a forma como as famílias vão educar seus filhos. Se houver proibição da propaganda infantil na televisão, as crianças vão buscar informação em outros meios, como a internet. A família brasileira tem maturidade suficiente para criar seus filhos e nunca houve trauma em nenhuma família porque as crianças assistiram a propagandas”, disse. Para Costa, a propaganda feita no Brasil é “criativa, saudável e inofensiva”. “As crianças percebem a mensagem e se emocionam, tornam-se mais espertas”, completou.

Para muitas famílias, o assunto causa preocupação. Com o objetivo de evitar que as crianças sejam incentivadas ao consumismo, muitos responsáveis tentam explicar que nem sempre é possível comprar o que se deseja.

A arte educadora Giovana Olivieri diz que conseguiu encontrar um equilíbrio para educar sua filha, Maria Flor, de 4 anos. Contrária a qualquer tipo de censura, como a proibição da exibição de propagandas infantis na TV, ela defende o bom-senso dos pais na hora de oferecer os produtos e a regulamentação para evitar exageros.

“A minha prática é oferecer a ela o que realmente acho que vale a pena. Faço o mesmo esforço da propaganda, só que na minha propaganda eu ofereço cultura, livro, educação, passeios e até brinquedos. São coisas menos comerciais, mais simples e até feitas à mão”, explica.

Giovana Olivieri conta que há pouco tempo a filha começou a pedir coisas que são anunciadas na televisão, mas diz que faz, junto com a menina, um filtro das opções. O resultado, garante, é o desenvolvimento de uma consciência maior na hora de decidir o que comprar.

Já a advogada Martha Lacerda, mãe de duas meninas, uma de 7 anos e a outra de 5, disse que é comum os pedidos insistentes principalmente por brinquedos que elas veem na televisão. Sem poder atender a todos, ela também procura explicar os motivos para deixar de comprar muitos deles.

“Elas vivem pedindo o que passa na TV e eu muitas vezes digo não, e falo que não posso comprar porque não tenho dinheiro para isso naquele momento. Faz parte a criança aprender que não dá para comprar tudo. Elas ficam tristes, reclamam, mas acabam entendendo”, ressaltou. A advogada também é contrária à proibição das propagandas voltadas para o público infantil. “Eles estão fazendo o trabalho deles, é o jogo do marketing. Nós, pais, é que temos que orientar nossos filhos”, completou.

A contadora Christiane Dautd declarou que as propagandas de videogames e de bonecas “mais caras” são as preferidas da filha Ana Clara, de 9 anos, que os pede sempre que vê. “Eu não tenho como comprar uma boneca que custa R$ 400. Converso e tento explicar que não dá, mas ela diz que meu salário é muito baixo, que eu ganho pouco e que preciso pedir aumento para comprar os brinquedos”, disse a contadora, que também não vê problema em dizer não para a menina.

A funcionária pública Érica Motta, mãe de Maria Luiza, de 4 anos, evita expor a filha às propagandas, principalmente em épocas que antecedem o Natal e o Dia das Crianças. “Nessas épocas, ela só assiste a filmes e programas em DVD. É clara a exibição abusiva de propagandas em canais infantis em períodos próximos a essas datas”, destacou.

O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não concede entrevistas sobre o assunto. A assessoria divulgou que do total de 325 processos instaurados em 2011 por inconformidade com o seu código, 10% correspondiam a “cuidados com o público infantil”.

A Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap), embora insistentemente procurada pela reportagem, não se manifestou.

 

Edição: Aécio Amado